nos de reconversão agrícola ficam na gaveta, para que os imperialistas possam continuar a vender para cá os seus produtos e nós a gastarmos o dinheiro dos empréstimos a comprá-los, ficando cada vez mais endividados, cada vez mais na dependência deles.

Prosseguindo a política ruinosa dos empréstimos e das desvalorizações do escudo, o que foi agravando cada vez mais a nossa dívida externa, o Governo só vê uma saída para equilibrar a balança de pagamentos: atrair capitais imperialistas oferecendo-lhes mão-de-obra barata, a possibilidade de despedir trabalhadores em qualquer momento e um movimento sindical amarrado a um pacto de miséria.

Assim se compreende porque quer o Governo continuar com a política, dos 15% de aumento de salários, mantendo congelados os contratos colectivos de trabalho; assim se compreende o que é o pacto social de que o Dr. Mário Soares começou a falar no regresso de uma das suas viagens da Europa.

Chega a tal ponto a política do Governo que, agora, com o pacote n.º 2, passou a tratar os próprios monopolistas portugueses, que fugiram para o estrangeiro com milhões de contos, como investidores estrangeiros, e portanto passam a investir com as mesmas regalias dos outros investidores estrangeiros.

Quer dizer: o Governo tentou fazer um acordo com os monopólios e, ao mesmo tempo, manter a democracia. Desvalorizou o escudo à espera que os monopólios investissem, deu-lhes cem mil contos, de indemnizações à espera que eles regressassem, deu-lhes as regalias de investidores estrangeiros, fabricou leis com os partidos dos monopólios - o PPD e o CDS -, chegando ao cúmulo de permitir a criação de sociedades de financiamento à margem da banca nacionalizada.

O Sr. Sérvulo Correia (PSD): - Que horror!

O Sr. Amaro da Costa (CDS): - Isso não é de mais?

O Orador: - À frente de todos elas está Sá Carneiro, a exigir o fim da Constituição, lançando-se em manobras com Pires Veloso. No fundo, o que eles querem é o fim do 25 de Abril, a criação de um governo autoritário e fortemente repressivo que imponha pela violência a exploração desenfreada do povo, condição para os monopólios investirem e obterem os seus superlucros.

Afinal, esta situação criada pelo Governo apenas demonstra o que sempre dissemos e o que as grandes jornadas do 28 de Setembro e do 11 de Março já tinham provado: que a democracia é incompatível com os monopólios e que é criminosa uma política de cedências aos grandes monopólios, porque isso nos arrastará para o fascismo.

É precisamente devido à gravidade da situação que hoje, em Portugal, se torna necessário opor uma barreira ao fascismo; isso significa travar a política do actual Governo, para que o PPD e o CDS não continuem a ganhar força; isso significa não querer aqui o Fundo Monetário Internaci onal, acabar com a política dos empréstimos e assentar todo o esforço económico na força dos trabalhadores, levando por diante projectos de reconversão industrial e agrícola ao serviço do nosso povo, e, ao mesmo tempo, desenvolver as relações internacionais de país a país e, antes de mais, com os países progressistas que estejam também em dificuldades e com os quais possamos, em conjunto, fazer frente ao imperialismo.

Tais medidas têm o significado de acabarmos de vez com conciliações com os monopólios, não lhes pagando mais indemnizações, nem sequer as dívidas por eles contraídas antes das nacionalizações.

Tal é o esforço gigantesco que se pede às forças democráticas e a todo o povo.

É um caminho que exigirá sacrifícios, mas que nos permite superar a crise que o País atravessa, melhorar as condições de vida do nosso povo, a caminho de uma economia independente e de progresso.

Ora não é este o caminho que o Dr. Mário Soares propõe no seu memorando. Pelo

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Sousa Franco.

O Sr. Sousa Franco (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro e Srs. Membros do Governo: Em situação de ansiedade e de crise, entendeu o Governo dever pedir a esta Assembleia o voto de confiança. Logo no momento da discussão parlamentar do Programa de Governo, nós, sociais-democratas, o convidamos a apresentar a questão da confiança, a fim de clarificar os apoios de que contava e as aposições que se lhe deparavam. Julgamos, pois, que fez agora bem; mas fazer bem tarde de mais e a destempo é só fazer menos mal. O Governo entendeu que devia pôr agora a questão da confiança, dada a gravidade nacional de problemas que se lhe deparara e que deixou acumular sem