Essa exploração, autêntica sangria efectuada na terra e nas gentes, traduziu-se no vasto contributo que o distrato deu, em bens e pessoas, para o desenvolvimento do nosso país. A mais negra e descarada colonização, que qualquer território sofreu, foi, e ainda é, realizada ali.
Em Trás-os-Montes foram cobiçosamente explorados os seus recursos naturais, sem a contrapartida a que se sentiam e sentem com direito e que sempre reivindicaram. O trabalho que exigia esforço e asco, era realizado pelos seus naturais; o trabalho que merecia melhor remuneração, outros o faziam e noutros locais era efectuado.
O Nordeste recebia as migalhas caídas da mesa que generosamente sustentava.
Sempre assim foi e chegamos à década de 60 com uma capitação, por pessoa activa, de 14 contos, enquanto a capitação no litoral do Norte do País já era então de 24 contos
Isto significa, só por si. que Trás-os-Montes é não só a região mais pobre do País mas a mais pobre da Europa.
Isto justifica, só por si, que Trás-os-Montes seja a região com a maior repulsão populacional de todo o território nacional.
Essa repulsão continua e continuará, enquanto se não promover o seu desenvolvimento, se não proceder ao ordenamento do território, se não instalarem pólos de desenvolvimento, se não considerar, em suma, a gente do Nordeste como portugueses que são e não como uma colónia a explorar até ao seu total esgotamento e esvaziamento.
A densidade demográfica em 1960 era de 36 habitantes por quilómetro quadrado; em 1970, passou a ser de 27, diminuindo, portanto, de 9 habitantes por quilómetro quadrado.
Se se não modificarem as condições actuais, o distrito de Bragança será, no ano 2000, um território semidesértico, com menos de 10 habitantes por quilómetro quadrado.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: A pastorícia será o futuro dos naturais do distrito de Bragança, ou, em alternativa, a caça furtiva no extenso couto, onde os senhores deste país ocuparão os seus merecidos sócios. Actualmente, mais de três quartos da sua população activa pertencem ao sector terciário, enquanto a média em Portugal se situa, exageradamente, em um terço.
Estes números, dão, na sua dureza, uma ideia do subdesenvolvimento do distrito, do seu estilo de vida e das ásperas condições em que ali se vive.
Se, porém, atendermos que toda a província possui os seguintes estabelecimentos industriais com mais de 100 pessoas: 5, no sector extractivo e uma, repito uma, só indústria transformadora, ocupando no seu conjunto 2900 pessoas, darei uma ideia da indigência do sector secundário Como, porém, 1900 postos de trabalho do total referido se situam na indústria mineira, isso vem reforçar a ideia aqui expressa de que é uma área colonizada.
A par destes números arrepiantes, que traduzem a situação dramática de uma região em crise, citaremos outros índices para elucidar a Câmara e chamar a atenção do Governo, na intenção de não só despertar boas inte nções, mas levá-lo a uma atitude enérgica e uma acção dinâmica, decidida e rápida.
Possui Portugal a mortalidade infantil mais elevada da Europa, que se situa em 54,45 por mil. Em Bragança, em cada mil crianças que nascem morrem setenta. Isto não será de estranhar, se atendermos que existe um médico para 2500 habitantes.
E podemos ainda afirmar que é neste distrito onde existem mais partos sem assistência, onde o número de quilómetros de estrada por quilómetro quadrado é menor e ainda onde a capitação de energia eléctrica é a mais baixa, sendo paradoxalmente a região que mais energia eléctrica produz.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Os naturais do distrito de Bragança, têm aguardado com esperança. Em vez de realizações, têm notado com mágoa que após o 25 de Abril lhes coube a por parte do "manicómio territorial em que enfermeiros improvisados e atrevidos submetem nove milhões de concidadãos a um electrochoque aberrante e desumano", como afirmou Miguel Torga.
Sendo assim, o que recebeu o distrito após a revolução que os capitães fizeram e a generais se promoveram?
Agro-Industrial do Cachão constituía, foi morto por uma gestão incompetente.
O Sr. Victor Louro (PCP): - Não estaria já?