O Orador: - Votou contra o I Governo e contribuiu para a sua queda. Negociou com o PS e não conseguiu estabelecer com ele uma plataforma.

O Sr. Jorge Leite (PCP): -Onde é que eu já ouvi isso!

O Orador:- Isolou-se assim do PS, duas vezes, talvez pensando que contribuiria desse modo para a realização de eleições gerais antecipadas - e falhou. Isto é: os objectivos definidos pelo seu Comité Central em Julho passado foram clamorosamente frustrados.

Vozes do CDS: - Muito bem!

Protestos do PCP.

O Orador: - O PCP tentou toda a sorte de malabarismo para o evitar. Recomendou aos seus militantes o dialogo com amigos e inimigos e aceitou negociar com o PS, sabendo que o PS negociava, à sua direita, um acordo de Governo, do qual ele, PCP, não participaria. Nas páginas de o diário, registavam-se, num dia, declarações de um Deputado do CDS para, pouco depois, as suas colunas arquivarem farisaicos protestos contra o facto de a mesma personalidade ser agora o Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Ontem o CDS era, com o PSD, a direita reaccionária. Hoje, para o PCP, o PSD não é englobado em nenhuma categoria e o CDS passou a ser a «extrema-direita legal».

Risos do CDS e PS.

Temos de concordar que é manifesta a volubilidade táctica do PCP. Depois dela não é possível ao partido outra solução que não seja a de agredir o II Governo com toda a carga de vozearia demagógica possível e imaginária. Sem rumo, sem direcção e, afinal, sem alvo efectivo. O PCP falhou na política de alianças e falhou na identificação do inimigo principal. Para um partido leninista não é pequeno o erro!

O Sr. Severiano Falcão (PCP): - Ah! Ah! ...

O Orador: - Mais simples são os motivos que explicam a táctica pouco consequente do PSD neste debate. Seria deselegante da minha parte aprofundá-los todos, aqui, dada a natureza subjectiva de alguns deles.

O Sr. Sérvulo Correia (PSD): - É mais fácil por interposta pessoa.

O Orador: - Lembrar-me-ei, por asso, a dizer que o PSD está apostado em demonstrar que o Governo cairá inevitavelmente, porque o PSD dele não participa.

Uma voz do PSD: - Bruxo! Risos.

O Sr. Amândio de Azevedo (PSD): - E com que convicção!

O Orador:- Foi a nossa tese desde Maio/Junho de 1976. Nessa altura, porém, o PSD comportava-se nesta Câmara e fora dela como um partido situacionista, exterior ao Governo, mas sentindo-se próximo dele, vendo-o com esperança, desejando-lhe muitos sucessos e recusando qualquer intenção de apressadamente o derrubar.

Risos do PSD.

Ainda em Outubro de 1977 o pressuposto dessa linha - um Governo PS/PSD - encontrava eco, pela voz de alguns dirigentes do PSD, designadamente do seu presidente de então.

O erro de cálculo e a ausência de suficiente linearidade táctica do PSD fizeram com que as coisas seguissem outro rumo. E aqui estamos, neste debate, com um PCP à busca de uma linha e com o PSD à procura de um estilo.

Risos do CDS e PS.

Se o CDS fosse oposição a um governo maioritário como se comportaria? - esta é a segunda pergunta a que importe responder.

Não pretendo, naturalmente, dar lições ou, muito menos, facilitar a vida aos meus colegas das bancadas oposicionistas. Gostaria, no entanto, de expor com franqueza a linha que o CDS provavelmente seguiria se não fosse, como é, partido de apoio ao Governo.

O Sr. Bento Gonçalves (PSD): - Vai ser agora a sociedade sem classe!

O Orador: - O CDS admitiria, decerto, que um Governo dia base interpartidária, formado sem a sua participação, poderia não durar até às próximas eleições legislativas ordinárias. Era uma hipótese a considerar. Dá-la, porém, como assente, à partida, seria um erro em que o CDS não cairia. Primeiro, porque o povo português não aceitaria como responsável uma tal atitude. Segundo, porque em política é melhor contar com as próprias forças do que com a eventual debilidade do adversário.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Terceiro, porque após uma crise governamental complexa de dois meses, seria mau para o País admitir como certa a possibilidade de uma nova e imediata crise.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador. - Julgo por isso que me é permitido, entre parêntesis, dizer que todos aqueles que, com responsabilidades públicas, insistem no «desencanto»