O Orador: - Suponho que ninguém, dos socialistas para cá, poderá dar a estas duas questões uma resposta negativa.

Se ninguém nega que esta solução comporta um grande risco, ninguém negará que ela comporta, também, uma grande possibilidade e que os seus estrategas principais merecem bem o nosso apreço pelo alargamento e o desbloqueio que, pela sua coragem, podem ajudar a abrir à vida nacional.

Vozes do CDS: - Muito bem!

Suponho que importaria, ainda, por último e nesta ocasião, ter consciência do significado histórico que, independentemente dos sinais partidários, esta nova passada política concretiza. Da participação do CDS na formação do Governo resultará que todos os grandes partidos portugueses tiveram já responsabilidades no Governo desde o 25 de Abril, isto é, durante os últimos três anos. É, de certo modo, um record de alternância democrática, inédito, pelo menos, nos Países do Sul da Europa.

É, aliás, também esclarecedor que a rotação partidária no exercício do Governo tenha começado por incluir a participação do PCP e desemboque agora na participação do CDS. Suponho que se trata objectivamente de uma eloquente prova do imenso caminho percorrido, de uma eloquente prova da realidade das alternativas democráticas em Portugal e de uma eloquente prova de que o CDS, tantas vezes considerado o bastardo, se não mesmo o bastardo enjeitado desta revolução, é agora por esta claramente perfilhado.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Mesmo, ou, sobretudo, para quem acredite na superioridade da prática política sobre as concepções ideológicas e teóricas, não poderá deixar de ver aqui, pelo menos, um significativo sinal e apelo da evolução futura portuguesa. É, aliás, por isso que, embora este Governo não seja um Governo do CDS e que embora este Programa não seja em sentido estrito o programa do CDS, esta é, do certo modo, uma hora histórica do CDS, como noutro plano e noutra medida esta - pelo ter assumido mais uma vez o tornar histórico da evolução portuguesa- é também uma hora do Partido Socialista.

O Sr. Carvalho Cardoso (CDS): - Muito bem!

O Orador: - E Deus queira, porque os ponteiros não se tendo enganado, que, assim como o tandem governativo com o PCP foi o grande passo atrás da revolução portuguesa, assim o tandem entre o PS e o CDS possa ser o grande passo em frente da revolução portuguesa. Esse é o meu voto.

Vozes do CDS: - Muito bem!

Aplausos do CDS e do Deputado independente Galvão de Melo.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Leite, para pedidos de esclarecimento.

O Sr. Jorge Leite (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A dialéctica diletante do Dr. Lucas Pires, que palavrosamente começou por opor o número à palavra, ignora que o número é a forma mais concentrada da palavra. É possível, todavia, que para quem como o Dr. Lucas Pires, tudo se resume ao vértice da corporação, tudo o que seja só palavra lhe cause engulhos. Por mim, fico agora a conhecer mais uma razão da sua aversão pela Constituição.

Todos nos recordamos da intervenção, sobre a Constituição, do Dr. Lucas Pires em 2 de Abril de 1976, que mereceu desta bancada, da bancada do Partido Socialista e até das galerias legítimos protestos.

Vozes do CDS: - Ilegítimos das galerias!

O Orador: - Digo eu que conheci agora mais uma razão da aversão do Sr. Deputado Lucas Pires pela Constituição e pelo projecto constitucional. É que, de facto, na Constituição não há números, há palavras.

O Sr. Carvalho Cardoso (CDS): - Olhe que há números, Sr. Deputado...

O Orador: - Mas há uma meta bem concreta na Constituição, Sr. Deputado Lucas Pires. E o que eu lhe pergunto é isto: é se o Governo e esta fórmula governativa conduzem ou não a essa meta?

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: - Há mais algum pedido de esclarecimento?

Pausa.

Então, o Sr. Deputado Lucas Pires poderá responder, se assim o entender.

O Sr. Lucas Pires (CDS) : - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Eu sabia que a minha dialéctica a