respeito dos números e das palavras causaria alguma perplexidade à bancada do Partido Comunista, pela razão simples de que, se para o materialismo só há números -e o materialismo é a horizontalidade absoluta da sociedade de massas -, a verdade é que o Partido Comunista vive normalmente prisioneiro das bíblias e das palavras.

O Sr. Octávio Pato (PCP): - De corporativismo é que o senhor percebe ...

O Orador: - Essa contradição é insanável.

Mais uma vez o Partido Comunista quer transformar a Constituição Portuguesa numa bíblia e não num processo constituinte real, de pessoas reais e de forças políticas reais.

Vozes do PCP: - Olhe quo não...

O Orador: - A nossa noção sobre a Constituição é uma noção personalizada e concreta, que tem a ver cem uma situação, com um destino, com um conjunto de pessoas. Não é a imposição de um diktat por escrito, de um decreto regulamentar transformado em constituição. Nós não fazemos da Constituição um decreto regulamentar como o Partido Comunista.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - O Partido Comunista quer fazer da Constituição uma portaria, um despacho ministerial, e nós não o queremos fazer.

O Sr. Jorge Leite (PCP): - Querem rasgá-la!

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Sr. Lino Lima (PCP): - Na melhor das hipóteses!

O Orador: - Eu felicito-me, porque reparo que o Sr. Deputado Lino Lima entendeu a minha observação apenas como uma ironia.

Risos do CDS.

Aplausos do CDS e do Deputado independente Galvão de Melo.

O Sr. Presidente:- Sr. Dr. Lucas Pires, eu creio que mesmo no caso concreto que o senhor referiu nunca houve violação nenhuma ...

Srs. Deputados, estamos na situação habitual: sem inscrições. Estou à espera que elas surjam. Posso demorar um pouco a fumar o meu cigarro, sou extremamente paciente, ou se querem que eu invente uma chamada telefónica, também sou capaz de inventar. Faço tudo o que os senhores quiserem.

Tem a palavra o Sr. Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro.

O Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro: - Sr. Presidente, embora correndo o risco de já não me sobrar tempo para podermos responder como desejaríamos - e nisso veríamos uma homenagem às últimas críticas feitas ao Programa do Governo -, pedia ao Sr. Ministro do Trabalho que intervenha.

De qualquer modo, chamo a atenção da Assembleia de que não está certo que se coloque o Governo em posição de ter de considerar ou de admitir que há críticas indiscutíveis e críticas que, na verdade, não merecem resposta.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Ministro do Trabalho.

O Sr. Ministro do Trabalho (Maldonado Gonelha): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Sendo esta a primeira vez que uso da palavra nesta Casa, cumpre-me respeitar o que já vem sendo uma regra, a qual é saudar-vos e manifestar-vos o meu respeito. Não quereria, todavia, que tal fosse tomado como um simples cumprimento de ritual e de cortesia, quando, de facto, muito ao invés disso, é, sim, o testemunho sincero do que sinto, eu, tal como sou, com a minha origem,, ao encontrar-me aqui nesta qualidade e perante vós, representantes legítimos do povo português, dos quais também sou um, nesta Casa que para todos os verdadeiros e sinceros democratas e o templo da liberdade e da democracia.

Aplausos do PS e do CDS.

O Orador: - Por tudo isto, peço-vos, Sr. Presidente e Srs. Deputados, aceitem a expressão da minha modesta homenagem.

Obviamente, subi a esta tribuna para vos falar do capítulo que me respeita no Programa de Governo, que aqui está em discussão.