ignorou que ao povo não interessam os episódios, passados ou presentes, da política politiqueira.

Vozes do PSD: -Muito bem!

O Orador: - O que o povo quer é saber com o que pode contar e conhecer as probabilidades ao ver minorados os tremendos problemas concretos, bem reais, com que se debate no seu dia-a-dia: a subida do custo de vida, o desemprego, a carência de habitação, as dificuldades dos sistemas de saúde e segurança social, a degradação do ensino, a desesperada situação dos reformados e pensionistas, sem esquecer a falta de boas estradas, de abastecimento de água, de sistemas de esgotos e de luz eléctrica que ainda afligem muitos portugueses.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Não era para esclarecer isto que devia servir este debate?

Será que o CDS pretendia escondei a situação de grande subalternidade em que foi colocado pelo acordo que assinou e que o levou a subscrever um programa que não era o seu, em contradição com muitas posições antes assumidas na Assembleia Constituinte e nesta mesma Assembleia?

Será que pretendeu que se ignorasse que o papel de apêndices despartidarizados, como agora se diz, dos seus três núncios...

Risos do PSD.

O Sr. Oliveira Dias (CDS): - Núncio era um grande cavaleiro!...

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Muito mal!

O Orador: - Verifica-se, pois, que, ao contrário do que aqui tem sido dito, este Governo não tem assegurada a maioria parlamentar estável com carácter de permanência, uma vez que ao que parece só há compromisso relativamente aos diplomas considerados fundamentais. Como a qualificação de fundamental deverá ser obtida, em cada caso, por acordo, está nas mãos de cada partido vincular-se em cada votação ou não.

Lindo modelo de «estabilidade maioritária intermitente».

Aplausos do PSD.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Lindo trapezista!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Muito nos admira, aliás, a súbita conversão do CDS aos encantos da social-democracia, quando a sua «Folha», não há muito tempo, a considerava um caminho para o socialismo colectivista e deste para o comunismo, realidades que eram, então, metidas no mesmo saco...

Outros julgarão que, uma vez que o Programa do Governo consubstancia a prática do PS, ele é, só por si, social-democrata. Nada mais errado. A prática do PS tem sido não uma prática reformista e harmoniosa, de acordo com um programa, mas uma prática flutuante oscilando entre o colectivismo, oriundo da sua inspiração ideológica dominante, e as cedências que a manutenção do Poder lhe impõe, sem excluir a concessão às medidas preconizadas pela escola económica ultraliberal de Chicago.

O Sr. Amândio de Azevedo (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Ora, desde o fim do século passado que é característica essencial da social-democracia a adequação entre a prática e a teoria.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Ao longo do século XX foi patente o insucesso dos partidos que por não serem sociais-democratas não efectivaram, a tempo, tal adequação. Os exemplos do PSI e da velha SFIO, sobretudo no tempo de Guy Mollet, são gritantes. Agarrados a um programa que diziam, por «realismo», não poder cumprir, caíram no chamado «oportunismo», ora se aliando a partidos centristas ora aos comunistas, deixando-se enlear pela corrupção e pelo clientelismo, tudo sacrificando à manutenção ou à aproximação do Poder, conforme os casos. Naturalmente que os seus resultados eleitorais foram diminuindo em consequência...

Aplausos do PSD.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Se o PS achou amargo o óleo de fígado de bacalhau, a dose que o CDS engoliu foi ainda mais substancial.

Risos do PSD.