outras formas de dizer a mesma coisa, sem usar a palavra "cobarde" e outras palavras que podem, efectivamente, ser consideradas ofensivas.

Sr. Deputado, vejo-me na obrigação ...

O Orador: - Sr. Presidente .

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, vejo-me na obrigação de chamar novamente a sua atenção, porque me parece ...

O Orador: - Sr. Presidente ...

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quando os Deputados socialistas bateram com as mãos nas bancadas, fizeram-no para exteriorizar um sentimento de revolta que sentiram ao ouvirem as expressões e os juízos do Sr. Deputado Moura Guedes. Não se pode coarctar a uma bancada uma manifestação como esta, que em certos momentos se impõe e é praticamente inevitável.

Quando afirmei que as palavras do Sr. Deputado Moura Guedes estavam imbuídas de sentimentos menos dignos e os qualifiquei de cobardia política, disse-o conscientemente e não retiro a expressão, Sr. Presidente e Srs. Deputados.

Aplausos do PS e protestos do PSD.

Vozes do PSD: - 15to é inadmissível, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Carlos Lage, com certeza que V. Ex.ª não retira. 0 que espero é que não repita.

O Sr. Amândio de Azevedo (PSD): - Isso não basta, Sr. Presidente.

O Orador: - Sr. Presidente, não é preciso repetir, porque a expressão foi dita com todo o peso e significado que encerra.

O Sr. Amândio de Azevedo (PSD): - Outra vez?

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: 0 nosso protesto visa as palavras proferidas pelo Sr. Deputado Moura Guedes, que, para além do que já afirmei, encerram em si uma duplicidade moral perfeitamente inqualificável (protestos do PSD), porque o Sr. Deputado Moura Guedes e o seu partido invocam actos condenáveis que foram praticados contra militantes e dirigentes do PSD, e que nós reprovamos e reprovaremos sempre, para minimizar, para desculpar, para atenuar e para, enfim, reduzir a nada os actos inqualificáveis e cobardes que foram cometidos contra o Sr. Ministro Almeida Santos, em S. Miguel, nos incidentes já conhecidos por todo o povo português.

O Sr. Bento Gonçalves (PSD): - Não é nada disso!

O Orador: - Essa duplicidade moral acaba por ser um autêntico amoralismo. Ora em política, que a cada passo não prima pela existência de sentimentos morais e de juizos morais, não pode estar ausente um sentimento de equilíbrio e de justiça, um sentimento moral, sobretudo nestes grandes momentos em que aquilo que está em causa não é o ataque a um homem, mas sim o ataque às instituições, o ataque a um Ministra, o ataque ao Estado democrático, e isso toda a gente pode entender perfeitamente.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: 0 que espanta é que, para desculpar a responsabilidade que também o Governo Regional dos Açores tem ...

O Sr. Rúben Raposo (PSD): - Não tem!

O Orador: - ... na Permissão e na tolerância relativamente ao proliferar deste clima - clima social, como dizia anteriormente o voto do PPD/PSD -, se queira dar ao ataque qualificadamente político, antidemocrático, que o Sr. Ministro Almeida Santos sofreu nos Açores, concretamente em Ponta Delgada, um cunho não político, de mero banditismo. Até se chega ao extremo, por exemplo, de no artigo de fundo do Jornal Novo se dizer o seguinte: "Por um par de óculos mobiliza-se todo o pais. De facto, substituí-los custa dinheiro. Para além dos aros e das lentes, o reforço policial enviado para os Açores para proteger o Ministro socialista não terá custado menos de mil contos, conforme cálculos hoje divulgados num matutino lisboeta. Enquanto isso, notícias mais graves nos chegam de Roma: a execução de Aldo Moro, apesar de ainda não inteiramente confirmada, é, sem dúvida, o mais grave acontecimento político dos últimos tempos." 15to é, para desculpar o ataque que o Sr. Ministro Almeida Santos sofreu nos Açores, e que não foi mais grave porque não calhou, vai-se acentuar a importância real que tem o fenómeno da captura e da possível liquidação física e criminosa de Aldo Moro, em Itália. É infame que se invoque um caso tão grave como este para desculpar o caso do ataque ao Sr. Ministro Almeida Santos, que podia redundar na sua morte. Pergunto até se existia no fundo da consciência de alguns Deputados e de alguns homens do PPD/PSD uma certa complacência se isso tivesse acontecido.

Aplausos do PS e protestos do PSD.

Vozes do PSD: - 15to não pode ser!