Através dos contactos que a minha vida profissional travou no Brasil, pude observar a força que tem a raiz portuguesa, bastas vezes demonstrada por descendentes de portugueses, a estima na convivência, a natural aceitação mútua de dois povos irmanados pela língua e pelos seus ideais democráticos.

Não esqueçamos que a nação brasileira é ainda solo onde se firma a actividade de comunidades diferenciadas na origem, na língua, na cor e nas religiões. A sociedade resultante dessas comunidades, unidas pelo trabalho, acabando por amar a terra que lhes proporcionou lar e família, marca a concretização' d& uma experiência democrática ímpar e aponta, a nível de povo, a possibilidade de entendimento fraternal com outros povos, no respeito pelas suas características próprias.

Por todas estas razões, propomos à Câmara o seguinte voto:

Considerando que decorre presentemente no Brasil a Semana das Comunidades Luso-Brasileiras, com sessões solenes nas Câmaras dos Deputados de- Brasília, Rio de Janeiro e S. Paulo;

Considerando que as relações dos povos brasileiro e português se marcaram sempre pela afeição e respeito mútuos;

Considerando que as culturas brasileira e português se radicam na mesma língua;

Considerando que estão traçados a alguns dos mecanismos jurídicos que, possibilitam uma maior cooperação entre portugueses e brasileiros;

A Assembleia da República Portuguesa saúda fraternalmente o povo brasileiro, exprimindo o mais vivo respeito pelos seus valores humanos e culturais e fazendo votos pelo seu futuro, construído democraticamente na liberdade, que além do mais tão bem tem sabido cantar na vivência colectiva e traduzir na sua literatura.

Aplausos do PS, de alguns Deputados do CDS e do Deputado independente Galvão de Melo.

O Sr. Presidente: - A Sr.ª Deputada Etelvina Lopes de Almeida deseja justificar o seu voto?

A Sr.ª Etelvina Lopes de Almeida (PS): - Sr. Presidente, eu já o justifiquei. Queria apenas pedir ao Sr. Presidente, no caro de o voto ser aprovado por esta Assembleia, que ele fosse endereçado ao povo brasileiro, através do Presidente da República e da Câmara dos Deputados de Brasília.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Acácio Barreiros.

povo brasileiro contra a ditadura fascista de Geisel.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Etelvina Lopes de Almeida.

A Sr.ª Etelvina Lopes de Almeida (PS): - Sr. Deputado, eu compreendo perfeitamente a sua posição, compreendo perfeitamente a posição de todos os antifascistas em relação ao problema dos antifascistas brasileiros, mas não se trata neste voto de fazer política, trata-se de uma saudação no momento em que é festejada a comunidade luso-brasileira no Rio de Janeiro.

Não pretendo com este voto abrir separações entre o povo brasileiro e o povo português. No meu voto, que espero que tenha o consenso desta Câmara, existe uma saudação ao povo brasileiro que, aglutinado numa quantidade de raças, de religiões e de ideologias, consegue ser democrático dentro de uma ditadura. É isso que avulta no meu voto.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Olívio França.

O Sr. Olívio França (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não é certamente difícil pelo contrário, acho isso de uma extrema facilidade - que a minha bancada se associe inteiramente ao voto proposto paio Partido Socialista.

Não há dúvida nenhuma de que nós quando falamos no Brasil falamos no povo brasileiro, assim como quando no Brasil alguma voz se levanta em razão do nosso próprio país está com certeza pensando também no povo de Portugal.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - A afeição e o respeito são os sentimentos que perpassam quer no povo brasileiro quer no povo português quando porventura aferimos as qualidades e as culturas dos dois povos.

Eu quero dizer-lhes o seguinte: Portugal sente como se fosse dele próprio tudo aquilo que representa uma glória para o povo brasileiro. Assim como também o Brasil, em todos os grandes momentos históricos em que Portuga! aflora a glória e o triunfo, não se tem esquecido de estar sempre ao lado dos portugueses.

Lembro aqui um facto incontestável dos tempos modernos, que foi a travessia do Atlântico por Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Como sabem, aquilo que hoje não representaria quase nada em relação aos modos científicos de travessias atlânticas era nessa altura qualquer coisa de homérico, Sacadura