O Orador: - ... reconheceu pela primeira vez e em concreto não o direito em geral à autodeterminação e independência dos povos, mas o direito à completa independência dos povos das colónias portuguesas.

A Sr.ª Alda Nogueira (PCP): - Muito bem!

O Orador: - E defendeu também em concreto que com esses povos e com os Estados que então se formassem se estabelecessem relações de amizade e relações de Estado a Estado de coexistência pacífica, como convém, aliás, para todos os países do mundo.

Esta posição em concreto, defendida múltiplas vezes ao longo de anos de combate contra o fascismo e contra a ditadura, foi por nós paga como devia ser. E por isso não podemos receber nesta matéria lições ...

O Sr. Carlos Robalo (CDS): - Podem! ... Podem! ...

O Orador: - ... de quem é recém-chegado a esta questão e à política!

Mas haveria que esclarecer também que, de longa data, o Partido Comunista Português defende que as relações entre Estados não têm sequer que ver com as ideologias políticas dominantes nesses Estados e países e que, em nome da paz mundial, em nome dos interesses que transcendem não só no tempo imediato mas histórico o interesse da Humanidade, em nome desses interesses se estabeleçam relações de coexistência pacífica que possam permitir evitar para sempre uma guerra que seria um holocausto e que seria, porventura, a destruição da Humanidade.

Nesse sentido, também é evidente que as afirmações feitas pelo Sr. Deputado e todo o processo de intenções que fez não têm qualquer sentido em comparação com a constante defesa desta posição, defesa também feita em concreto, defesa também paga como deve ser paga toda a defesa que é feita em concreto.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - O Sr. Deputado, além de fazer processos de intenção ao meu partido, fê-los também em relação ao meu camarada Jaime Serra. Infelizmente ele não está aqui para se defender, e não o querendo eu substituir, sempre lhe digo que em outra oportunidade poderia suprimir do seu discurso aquilo que manifestamente se refere à pessoa do Deputado quando ele não está presente.

Vozes do PCP: - Muito bem!

não poderá apresentar aqui um só caso de qualquer tipo que, até por descuido, pudesse introduzir o grão de veneno que pudesse instilar o veneno para que melhores relações se não estabeleçam.

Eu lembro-lhe um facto muito importante a propósito da sua insinuação e afirmação de que nós não pretendemos, por não estarmos na área do Poder ou próximo do Poder, que se estabeleçam boas relações:

No tempo da ditadura de Salazar punha-se esta questão: se o Governo fascista de Salazar entendesse estabelecer relações diplomáticas com a União Soviética, comerciais ou outras, se isso se fizesse, se a União Soviética estivesse disposta a estabelecer essas relações, qual era a nossa posição?

Pois bem, Sr. Deputado, a nossa posição era esta: sim senhor, estabeleçam-se relações diplomáticas, de amizade e de cooperação, mesmo sendo um Governo fascista, um Governo que nós pretendíamos destruir, que pretendíamos que fosse suprimido e que, enfim, fosse substituída a ditadur a pelo regime democrático que hoje temos.

E isto é a prova mais cabal - e fizemo-lo publicamente - de que, estando muito fora da área do Poder e tratando-se até de relações com um Estado que nessa altura tinha um Governo fascista, uma ditadura que nós atacávamos e contra a qual lutávamos por todos os meios, mesmo nestas circunstâncias nós defendíamos, se possível, que existissem relações diplomáticas e boas relações comerciais de coexistência entre os dois Estados.

Esta é uma prova de que a nossa política é clara, transparente, e que os seus ataques, as suas insinuações e os seus processos de intenção não têm qualquer cabimento.

Aplausos do PCP.