nguém fala - que todos os dias fazem a tal confusão nova entre os fascistas e os fascizantes.

Nós defenderemos a liberdade e lutaremos sempre pela liberdade para todos e não fazemos caça às bruxas. Como tive ocasião de dizer aqui largamente, somos de opinião de que apenas se deviam punir os actos. Isso é que eu gostaria de ter visto nesta lei, era isso que estava no nosso projecto e também no do CDS - que foi logo rejeitado -, mas não foi isso que prevaleceu. Os actos e as organizações punem--se, mas as intenções! ... Enfim, poderia citar aqui passos espantosos, mas a imprensa, certamente, se encarregará de divulgar isso. Essas coisas é que não são de punir e eu tenho o direito de pensar que foi um mau passo dado quando se aprovou esta lei.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - É contumaz!

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, como sabem, o Regimento não prevê que se façam protestos sobre declarações de voto.

Vou dar a palavra ao Sr. Deputado José Luís Nunes, e seguidamente ao Sr. Deputado Fernando Costa, solicitando-lhes apenas que sejam breves nas suas intervenções, dado o adiantado da hora.

O Sr. Pedro Roseta (PSD): - Não nestes termos!

O Orador: - Sr. Deputado, não o autorizo a que me interrompa.

O Sr. Pedro Roseta (PSD): - Diga isso aos seus colegas!

O Orador: - Eu sei, eu disse aos meus colegas que o interromperam e lamento imenso que muitas vezes se responda aos provocadores no seu próprio campo.

Em primeiro lugar, na Itália, Alcide De Gasperi, membro fundador da Democracia Cristã, e D. Luigi Sturzo souberam ser resistentes e dizer não ao fascismo. Na Alemanha tantos outros, como, por exemplo, Von Holf e como aqueles que morreram no atentado contra Hitler, souberam ser resistentes e dizer não ao fascismo. Na Noruega e na França, o General De Gaulle e tantos e tantos cristãos das mais variadas procedências, como se pode ler no livro Cartas de Fuzilados, souberam ser resistentes e dizer não ao fascismo.

Neste momento não se trata de saber, não se trata de pensar, não se trata tão-só de reconhecer estes factos históricos fundamentais. Aliás tento de toda a maneira, e julgo que o consegui, dominar o aspecto emocional que as minhas palavras poderiam ter. Gostaria, no entanto, de dizer que todos nós temos culpa. Eu sinto-me culpado das palavras do Sr. Deputado Pedro Roseta porque, como dirigente político e responsável, há que reconhecer que neste país talvez em nenhum momento se tenha feito a pedagogia necessária do que foram cinquenta anos de ditadura reles, infame e repugnante, o que permite agora que nesta Assembleia alguém, envergando a veste de não se sabe o quê, venha dizer aquilo que o Sr. Deputado Pedro Roseta disse.

Uma voz do PS: - Muito bem!

O Orador: - Poder-se-ia encarar tudo aquilo que o Sr. Deputado disse com uma certa bonomia. A figura, o gesto e a palavra impor-nos-ia talvez essa posição. Simplesmente, os cinquenta anos que passaram têm demasiadas vítimas atrás deles para que as pessoas se possam rir daquilo que, hoje ainda, neste momento, de forma nenhuma pode fazer rir.

O Sr. Pedro Roseta (PSD): - Quem é que está a rir? Só se é o Sr. Deputado.

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Vou terminar com uma reflexão muito clara e muito simples, que é a de que declarações como as do Sr. Deputado Pedro Roseta só podem vir da boca de pessoas que não foram resistentes, que não disseram não ao fascismo, que não disseram não às mordaças, que não disseram não à ditadura, no momento em que se corria perigo pessoal e político em fazê-lo.

Devo dizer que sinto o maior desprezo, a maior repugnância e o maior asco pelas suas palavras, Sr. Deputado Pedro Roseta.

Aplausos do PS e do PCP.