porque se empenhou na minha libertação da cadeia depois de nela ter entrado por lhe ter escrito duas cartas correctas que publiquei. Essa publicação levou-me à prisão. Isso traduz realmente o ambiente que se vivia, não em 1936, nem em 1945, mas em 1968. Os seus sentimentos humanos foram felizmente superiores aos do ditador, mas não podemos esquecer, para sermos objectivos, que a subserviência da Igreja durante quarenta anos ao totalitarismo teve também em D. Manuel Gonçalves Cerejeira o seu obreiro mais eficiente.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Humanista, foi-o. Homem convivente, foi-o. Mas não esqueçamos que, como dizia numa das cartas que lhe dirigi e a que ele respondeu, a função, e digo-o eu que não sou católico, dos pastores não é apenas andar nas cerimónias a dizer "amen" às autoridades civis. É também enfrentar essas autoridades civis quando se não está de acordo com elas. E isso que muitos bispos fizeram depois do 25 de Abril, como, por exemplo, o falecido arcebispo de Braga, não o fizeram antes do 25 Abril. Não esqueçamos, portanto, Sr. Deputado Nuno Abecassis, as várias facetas da personalidade do falecido cardeal, nem esqueçamos que, se não houve problemas clericais depois da Revolução, isso não se deve ao episcopado, deve-se, sim, ao facto de os chamados católicos progressivos terem esvaziado o mesmo episcopado reaccionário de tudo quanto ele tinha de totalitário e de o terem mostrado tal qual ele era.

O Sr. Cunha Simões (CDS): - Progressistas por correspondência!

O Sr. Nuno Abecassis (CDS):-Serei brevíssimo, Sr. Presidente.

Lastimo que, tendo eu colocado a figura do cardeal Cerejeira numa determinada dimensão, se tivesse tentado aqui, e por alguém que quis também prestar uma homenagem ao cardeal Cerejeira, colocar a minha intervenção numa dimensão que eu não lhe quis dar. Não responderei a isso. Sei, e posso-o afirmar nesta Câmara, que a Igreja tem resposta para o que foi aqui afirmado. Ela não a quis dar até hoje, o próprio cardeal Cerejeira, em vida, não a quis dar e não serei eu que romperei esse circuito. A Igreja, quando entender, dará a resposta que quiser. A minha intervenção fi-la e declarei abertamente que a fazia, não em funções partidárias, mas como representante que de algum modo me sinto do povo cristão desta terra e por isso também não farei qualquer protesto. A maneira de estar em Igreja é a de serviço, de humildade e até a de aceitação das críticas injustas. Aceito-a por isso também.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Raul Rego deseja usar da palavra para que efeito?

O Sr. Raul Rego (PS): -Sr. Presidente, é para dar uma informação ao Sr. Deputado Nuno

O Sr. Presidente: - Se for extremamente rápida, pode dá-la.

O Sr. Raul Rêgo (PS): - É muito rápida, Sr. Presidente.

Sr. Depurado Nuno Abecassis, é para lhe dizer que esse silêncio que diz observar, um silêncio muitas vezes, invocado, e um silêncio simplesmente cúmplice.

Protestos do CDS.

O Sr. Nuno Abecassis (CDS): - Peço a palavra Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, não lhe posso recusar a palavra, mas é o último orador que intervém neste período de antes da ordem do dia, que já esgotámos, pois a Mesa tem de cumprir o Regimento.

O Sr. Nuno Abecassis (CDS): - Sr. Presidente, só quero fazer um protesto em meu nome, e que fique bem marcado que é em meu nome pessoal.

Ninguém nesta Câmara pode acusar o Deputado Nuno Abecassis de alguma vez, desde que tem conhecimento da sua dignidade e isso é desde que adquiriu a sua consciência de homem - , ter deixado a justiça e a liberdade por defender, neste regime ou em qualquer outro.

O Sr. Cunha Simões (CDS): - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Srs Deputadas, vamos entrar no período da ordem do dia.

Essa pendente na Mesa o pedido de autorização para que o Sr. Deputado Barbosa da Costa deponha como testemunha no Tribunal Judicial de Vila Nova de Gaia no próximo dia 6 de Dezembro, pelas 14 horas e 30 minutos. Trata-se do processo n.º 34/77, da 1.ª Secção daquele Tribunal. O nosso colega já foi ouvido. A assembleia tem algo a opor?

Pausa.

Como não tem, está autorizada a comparência do Sr. Deputado no referido Tribunal.

A segunda parte dos nossos trabalhos indica a discussão dos seguintes projectos de lei: n.° 75/I

Organizações fascistas-, apresentado por Deputaidos do PCP; n.9 76/I - Defesa da democracia -, apresentado por Deputados do CDS, e n.º 77/I