embora invocando fundamentos próprios e não os alheios.

Aplausos do PS.

O que conta para nós é o resultado que de facto se pretende atingir e não aquilo que queira aparentar, escondendo a vontade real para enganar o eleitor ou para possibilitar piedosas justificações a posteriori.

Aplausos do PS.

O povo português habituou-se a ver o Partido Socialista assumir as suas responsabilidades sem temer os riscos nem se adaptar às modas passageiras.

Vozes do PS: - Muito bem!

Vozes do PSD: - Lá isso é verdade!

O Orador: - Fomos um partido de resistência ao fascismo e por isso muitos de nós conheceram as prisões e os exílios. Estivemos e estamos com o 25 de Abril sem qualquer ambiguidade ou equívoco.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Liderámos o processo da resistência ao totalitarismo quando em 1975 se perfilou sobre o horizonte nacional a ameaça de uma nova ditadura.

O Sr. António Arnaut (PS): - Muito bem!

O Orador: - Não fugimos então para o estrangeiro ...

Aplausos do PS.

... nem nos postergámos ou sequer nos calámos perante os senhores do momento, civis ou militares.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Não se esperem de nós mais uma vez transigências acomodaíicias ou sequer o silêncio perante a vaga revanchista que sopra agora da extrema-direita.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Somos pela defesa da República e da Constituição tal como a entendemos e até agora aplicámos. Não facilitaremos o trabalho daqueles que, ainda que com pequenos passos subtis, procuram abrir fendas na democracia pluripartidária, que temos ajudado a construir, ou daqueles outros que minam constantemente com argumentos vários e até às vezes pseudoprogressistas a resistência dos democratas na defesa cada vez mais necessária da democracia.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Durante os dois últimos anos assumimos no I e II Governos Constitucionais as nossas responsabilidades em circunstâncias nacionais extremamente difíceis que de todos são conhecidas. Não por interesse partidário, ...

Risos do PSD.

... mas simplesmente porque fomos os mais votados nas eleições de 1976.

Aplausos do PS.

Para isso, de resto, houve eleições e se pediu ao povo para votar, isto é, para através do voto escolher quem o haveria de governar até 1980.

Vozes do PSD: - Viu-se!

O Orador: - Ora, ainda não houve novas eleições. Quando as houver, o povo dirá de novo quem quer que o governe e nós, socialistas, como sempre, respeitaremos o seu veredicto. É nisso que consiste a alternância democrática.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Mas não se creia que se pode encorajar o voto ou lutar contra o abstencionismo se lhe retirarmos qualquer conteúdo prático. Se o povo viesse a reconhecer que o seu voto serviria finalmente para pouco, na medida em que os governantes não fossem mais escolhidos pelo voto popular ou nem sequer necessitassem de se submeter ao sufrágio, como sucedia nos tempos antigos.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - É certo que o PS não teve, nem seria de esperar que tivesse em regime pluripartidário, a maioria absoluta. Por isso, por consenso unânime desta Câmara, governou só com alguns independentes, que se declararam seus simpatizantes, apoiando-se numa maioria flutuante e fazendo acordos pontuais com todos os outros partidos, e se apoiou depois durante o II Governo numa maioria mais estável, dado o acordo político com incidência governamental que estabeleceu com o CDS. Mas, mesmo durante esse segundo período, a lei contra as organizações fascistas, por exemplo, foi aprovada com base noutra maioria circunstancial: PS/PCP. É o que há de mais normal num regime pluripartidário quando nenhum partido detém a maioria absoluta e muitas vezes só há, por abstenção de algum ou alguns, maiorias relativas. Note-se que, durante a crise que resultou da queda do 1 Governo, o PS sugeriu ao Presidente da República que convidasse para formar Governo o presidente do maior partido da coligação negativa que derrubara o Governo, ou seja, o PP/PSD.

Os outros partidos, a começar pelo PSD, e o próprio Presidente da República não entenderam assim, e por isso, mais uma vez por consenso, se voltou a uma solução de base socialista, que, dados os resultados eleitorais, é evidentemente a mais defensável e natural.

Vozes do PS: - Muito bem!

Vozes do PSD: - Por consenso?