O Orador: - Os trabalhadores alertaram para os perigos desse contrato de viabilização. Ele foi apresentado em Agosto e os resultados práticos, contra todos os perigos que os trabalhadores lhe apontavam, não foram nenhuns, nem na actualização, nem na sua aplicação, e já lá vão praticamente dois meses, sem que esse contrato tenha alguma viabilização!

O Sr. Deputado deve ter conhecimento de que a banca, que devia estar ao serviço dos trabalhadores e do povo português, faz um boicote sistemático e selectivo a todas as empresas, especialmente às do sector público e nacionalizado.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - O Sr. Deputado levantou também o problema da greve política dos trabalhadores da Sorefame, mas a greve não é só dos trabalhadores da Sorefame, Sr. Deputado, é também de todos os trabalhadores deste país!

Quanto aos trabalhadores da Sorefame, posso dizer que tanto eles como os de outras empresas da metalomecânica não sabem desde 1975 o que é ver o seu salário acrescido em relação à inflação, à diminuição do poder de compra, a todas as imposições que o Fundo Monetário Internacional impõe aos trabalhadores e que os sucessivos governos têm aceitado, das quais eles são as principais vítimas.

Os trabalhadores da Sorefame não fazem uma greve política; pretendem é salvaguardar o seu nível de vida, é levar para casa um ordenado que dê para dar de comer às suas famílias.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - A luta dos trabalhadores da Sorefame não é uma greve política.

Aplausos do PCP:

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Muno Abecasis, suponho que para dar um esclarecimento.

O Sr. Nuno Abecasis (CDS): - O Sr. Deputado vive paredes-meias com a Sorefame, e eu vivo dentro das paredes da Sorefame há vinte e cinco anos!

O Sr. Presidente: - Chamo a atenção dos Srs. Deputados. Queira continuar, Sr. Deputado Nuno Abecasis.

O Orador: - Estava só a ouvir o que aqueles senhores diziam ...

O Sr. Lino Lima (PCP): - E faz muito bem em ouvir, porque sempre aprende alguma coisa!

Risos do Sr. Deputado Carlos Robalo (CDS).

Risos do PCP.

Penso que em qualquer sítio do mundo se chama a isto uma greve política, como, aliás, foi chamada na Sorefame.

O Sr. Manuel Gusmão (PCP): - Sabe o que é a Internacional?

O Orador: - O Sr. Deputado e capaz de saber alguma coisa dos bancos da Faculdade de Letras; do que não sabe nada, com certeza, é dos bancos de uma oficina! Portanto, a si nem sequer respondo.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - O Sr. Deputado não faz ideia nenhuma do que é a vida de um trabalhador, pelo que é melhor estar calado e não dizer disparates!

Aplausos do CDS e protestos do PCP.

Gostava também de dizer ao Sr. Deputado que para quem luta para ver garantidos os seus salários me parece ser uma estranha forma de luta provocar uma greve que obrigou a recusar o fabrico de três corpos de alternadores para centrais nucleares em França.

São, repito, factos objectivos que devem ser apontados aqui. E se o Sr. Deputado tem ouvido as minhas intervenções, sabe que muitas vezes - e, aliás, muitas vezes no desempenho das funções que tive no Governo, e agradeço-lhe que tenha dito que não tive nada a ver com esse contrato de viabilização - me tenho referido e combatido a tacanhez com que frequentemente os bancos e a banca nacionalizada vêem os problemas da indústria.

O Sr. Carlos Carvalhas (PCP): - Apenas!

O Orador: - Mas uma coisa é ser objectivo e dizer as verdades que têm de ser ditas e outra coisa é mascarar as situações com falsas verdades, o que no que diz respeito à Sorefame, pelo menos enquanto eu aqui estiver, não será feito!

O Sr. António Pedrosa (PCP): - Dá-me licença, Sr. Presidente?

O Sr. Presidente: - Para que efeito deseja o Sr. Deputado usar da palavra?

O Sr. António Pedrosa (PCP): - Sr. Presidente, é para prestar um esclarecimento ao Sr. Deputado Nuno Abecasis e à Câmara.

O Sr. Presidente: - Queira fazê-lo, mas muito sinteticamente.

O Sr. António Pedrosa (PCP): - Sr. Deputado, regozijo-me por me dar a oportunidade de esclarecer algumas das suas dúvidas, que a maioria desta Câmara talvez não tenha porque está com os trabalhadores ...

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - O Sr. Deputado diz que os ordenados dos trabalhadores da Sorefame não estão em atraso, e quero lembrar que a minha intervenção não versava apenas sobre a Sorefame, mas, sim.