deira de Latim quem estudou Materialismo Dialéctico, já que falou nisso, refiro que essa cadeira estava pulverizada por quase todos os cursos universitários, incluindo a área das Literaturas Clássicas, e se o decreto aceita que a cadeira de Latim não seja efectivamente frequentada tal se deve à preocupação de não prejudicar os alunos na escolaridade, boa ou má, que tiveram ao longo destes anos. E o mesmo se diga em relação à mudança de planos de estudo que abruptamente se faz através deste diploma. Mudanças de planos de estudo todos os anos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa pelos seus órgãos próprios e à revelia de qualquer disciplina legal.

É verdade que a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa tem falta de professores, em grande parte em consequência da noite fascista. Dispõe no seu corpo docente de algumas figuras eminentes da cultura portuguesa e de elementos mais jovens que se estão preparando para realizar uma obra que certamente será de mérito. Observo, porém, e para apenas citar nomes de historiadores consagrados, que, por exemplo, Vitorino Magalhães Godinho, Oliveira Marques, José Augusto França, Luís de Matos, Adriano Gusmão e outros não puderam, porque não foram convidados ou recusaram pactuar com o estilo da casa, entrar ou continuar na Faculdade. Este é certamente um ponto que merece reflexão.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Como é possível fazer considerações dessas quando sabe que isso não é verdade!

O Orador: - É verdade que eles não estão lá! Obviamente que é verdade!

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Mas não é verdade que não estejam lá por esses motivos!

O Orador: - Bom, não me compete falar por eles. O que eu disse foi que ou não foram convidados ou não quiseram pactuar com o estilo da casa.

Uma voz do PCP: - Isso não é verdade!

O Sr. Vítor Louro (PCP): - Isso é estar a interpretar o que eles pensam!

O Orador: - Qual é a alternativa, Srs. Deputados?

O Sr. Presidente: - Eu peço aos Srs. Deputados para não entrarem em diálogo.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - O Sr. Deputado dá-me licença?

O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Sr. Deputado, existindo neste país mais de uma meia dúzia de Faculdades de Letras, ou de Faculdades onde se ministra História, por que é que todos os professores de História haviam de estar na Faculdade de Letras de Lisboa? Como é que o Sr. Ministro pode provar ...

O Orador: - Ministro não, já há três meses que o não sou.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - É que ao ouvir o Sr. Deputado Sotomaior Cárdia julgar-se-ia que ele ainda não perdeu o hábito da cadeira ministerial!

O Orador: - Isso é uma ilusão do Sr. Deputado.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - É por isso que de vez em quando me sinto um bocado equivocado.

O Sr. Joaquim de Sousa (PS): - Isso é uma insolência!

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Não é insolência não, Sr. Deputado.

O Sr. Marcelo Curto (PS): - A direita ri, ó Vital!

O Orador: - Terminou, Sr. Deputado?

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Terminei, sim, Sr. Deputado.

O Orador: - Bom, é muito simples a resposta. Eles poderiam estar na Faculdade de Letras de Lisboa porque são todos residentes em Lisboa e todos aqui exercem a sua actividade profissional.

Devo também dizer-lhe que não me recordo se foram convidados ou não. Mas, quando eu disse, e apresentei duas hipóteses, que esses historiadores não teriam querido pactuar com o estilo da casa, é porque provavelmente, no meu entendimento, eles acharam que o modo como estava a funcionar a Faculdade de Letras de Lisboa não era considerado por eles suficiente pára aí trabalharem.

O Sr. Vítor Louro (PCP): - Tem procuração, Sr. Deputado?