Penso que não vale a pena, num debate deste tipo, entrar em polémicas que são inúteis. No entanto, não podemos deixar de sublinhar que o Sr. Deputado Ângelo Correia fez algumas considerações acerca do meu partido que, em nossa opinião, não são verdadeiras e entendemos não serem oportunas.
Vozes do P§: - Muito bem!
O Orador: - Limitamo-nos apenas a registar que o Sr. Deputado Ângelo Correia disse aqui que pela primeira vez se tinha falado verdade na caracterização da situação económica portuguesa e que ele próprio, nesta Câmara, já diversas vezes se havia pronunciado acerca da caracterização dessa mesma situação económica.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Ângelo Correia.
O Sr. Ângelo Correia (PSD): - Quero formular, Sr. Presidente, um ainda mais ligeiro contraprotesto.
Naturalmente que o termo da referência que eu utilizava era o Governo e não os grupos parlamentares.
Vozes do PSD: - Muito bem!
O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Guterres.
O Sr. António Guterres (PS): - Percebo então por que razão aplaudiu o III Governo Constitucional.
O Sr. Ângelo Correia (PSD): - Não aplaudi!
O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Brito.
O Sr. Carlos Brito (PCP): - Sr. Vice-Primeiro-Ministro: Ouvimos com toda a atenção a sua exposição, o que decorre, aliás, do grande número de pedidos de esclarecimento que lhe foram dirigidos por esta bancada e que, como teve ocasião de observar, não tiveram apenas o objectivo de criticar, mas também o objectivo de compreender.
O Sr. Vice-Primeiro-Ministro fez preceder a exposição da política económica e social deste Governo de uma introdução de natureza política que nos merece um comentário e algumas interrogações.
Em certo momento da sua introdução política afirmou que a sociedade nova que ambicionamos para o povo português constrói-se com o país real e não com o país imaginário. Somos naturalmente sensíveis a este apelo, mas ele suscita-nos uma primeira interrogação: qual é o país real?
Vozes do PCP: - Muito bem!
O Orador: - Como demonstrámos ao longo das perguntas que lhe dirigimos desta bancada, é do país real que parte a nossa reflexão sobre a política económica necessária e é ao país real que pretendemos dar resposta com as soluções que preconizamos. Mas o país real a que o Sr. Vice-Primeiro-Ministro se refere será o país real político? Peco-lhe então que, descendo ao quadro desta nossa Assembleia, responda a esta pergunta: Será o país real o conjunto dos dois partidos que expressa e claramente apoiam o Governo e que são a minoria desta Casa, ou, pelo contrário, os outros que o não apoiam? Ou serão todos? Mas, no todo, a maioria não traduzirá mais realmente os sentimentos do povo português, portanto a realidade? O que é que traduz o país real? Em democracia, não será o sufrágio? E certo que pode haver transformações e deslocações no eleitorado - não o negamos -, mas esta expressão que aqui está é a expressão legal do País enquanto se não realizarem novas eleições.
Vozes do P§ e do PCP: - Muito bem!
O Sr. Vital Moreira (PCP): - Muito bem!
O Orador: - Na verdade, é muito importante esclarecer a questão, porque os analistas estão a procurar dar uma visão do País real para o qual não têm qualquer mandato nem legitimidade legal.
Vozes do PCP: - Muito bem!
O Orador: - Eram estas, Sr. Vice-Primeiro-Ministro, algumas considerações iniciais que lhe queria colocar.
De uma maneira ou de outra, já contemplada por Deputados do meu grupo parlamentar, gostaria, no entanto, de lhe formular de novo, talvez em termos mais prementes, porque mais chãos, uma pergunta, que é esta: qual é a estratégia económica deste Governo?
Devo dizer-lhe que ao ler o Programa do Governo fomos tocados por um apelo que ele encerra com veemência, e que é o de que isto não pode continuar assim. Estamos de acordo, temos repetido isto inúmeras vezes nesta Casa e pelo País inteiro. Procura-se depois demonstrar a certeza e a urgência deste apelo, e aí começamos a discordar.
Na verdade, o diagnóstico feito pelo Governo não coincide largamente, como já tivemos oportunidade de demonstrar, quer numa intervenção da nossa bancada, quer através dos pedidos de esclarecimento que lhe dirigimos, com o nosso diagnóstico, e em pontos fundamentais. Mas onde estamos em total discordância é na conclusão. É que, começando por