O Sr. António Esteves (PS): - Sempre se tem entendido que as declarações políticas não prejudicam o período de antes da ordem ,do dia. Normalmente, essas intervenções têm lugar apenas no final. Foi com esse sentido que fizemos a solicitação.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, salvo o devido respeito, parece-me que não é assim.

Pausa.

Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Olívio França.

republicana democrática, um desesperado anseio de restabelecer, na linha quebrada em 1580, a velha potencialidade portuguesa, exaurida nos descobrimentos e conquistas dos séculos quatrocentista e quinhentista. O povo português, a partir da forçada ligação a Espanha, em nome de uma hereditariedade dinástica e principalmente depois do desastre da Invencível Armada, Alcácer Quibir dos Espanhóis, uma série de desgraças e perdas incalculáveis.

Nem sequer os êxitos das lutas da restauração foram suficientes para recriar a potência lusitana nas bases, embora efémeras, que lhe tinham sido assinaladas no Oriente, principalmente pela acção dominadora de Afonso de Albuquerque.

Uma sociedade de pouco mais de um milhão de habitantes era demasiadamente escassa para cobrir e proteger os grandes espaços da índia, de Ceilão, de Java do arquipélago das Malucas -digo intencionalmente "Malucas", pois era assim que os portugueses lhe chamavam e só depois os Ingleses escreveram com "o" -, da Malásia, do golfo Pérsico e de tantos outros 'empreendimentos em África e no Brasil.

O saudosismo português foi uma contracção da lembrança e proveito dos altos de glória conjugados com o sentimento de impotência e frustração perante os novos conquistadores, muito mais fortes e que era impossível, em razão dos meios, deter e dominar.

Vozes do PSD: - Muito bem!

Sebastianismo significa não só frustração e angústia mas também uma força interior a alimentar a esperança num melhor destino nacional.

O Império Romano, corroído por causas várias, entre as quais funcionou a destruição da cultura greco-romana pelo cristianismo e pelas invasões germânicas, teve sucessores ou tentativas de sucessão de tipo sebastiânico. Carlos Magno foi uma delas e a tentativa da criação do Sacro Império Romano-Germânico outra.

Da mesma espécie, embora com o desvão do centro do poder em direcção a Paris, foi o sonho napoleónico dos Estados Unidos, da Europa e no nosso tempo, o verbalismo impotente de Mussolini, com visão minguada do maré nostrum, revelando saudosismo e jactância, a encobrir a insuficiência de meios, que nem sequer lhe permitiram a destruição da nova Carlago, corporizada no poderio inglês. Mas para além desses sonhos maiores, a Europa contém uma constelação de sentimentos desse género, desde a Escócia à Bretanha Francesa, desde o Ulster a Gibraltar. E até nós, Portugueses, ainda nos não libertámos inteiramente do nosso pequenino espinho de Olivença.

O Sr. Sá Machado (CDS): -Muito bem!

O Orador: - O acidente do ultimatum, em 1890, transformou o saudosismo português num acto emocional de profundas consequências. Dele surgiu o 31 de Janeiro, e se e certo que figuras das mais ilustres andavam na sementeira das ideias republicanas, só depois daquele movimento cias cresceram e se avolumaram de modo a criarem as possibilidades do renascimento português, ao qual, vinte anos mais tarde, o 5 de Outubro veio a dar forma, corpo e medida.

O 31 de Janeiro foi um simples ponto de partida, e todos os acontecimentos de luta posteriores, incluindo o 5 de Outubro, foram um reagrupar de forças com horas muito cruéis e sombrias, que com a contraprova da asfixia de um povo amordaçado gerou, como todos os partos dolorosos, a esperança numa pátria renascida.