solidariedade internacional pensamos que o problema deverá ser colocado. Recordo, por exemplo, o que há anos ocorreu nos Países Baixos e o cordão de solidariedade internacional que por isso se constituiu.

Sem querer ser incómodo e muito menos desejando dramatizar, diria que os lisboetas, isto é, o Poder Central, têm na falta de pão, de água e de electricidade ou na dificuldade em telefonar uma pálida amostra das consequências da catástrofe. E infelizmente e paradoxalmente é quase bom que assim seja, para que dela se não distanciem, para que a não considerem um problema «dos outros», para que se identifiquem e sintam o drama e a amargura daqueles milhares de homens, mulheres e crianças a quem falta tudo. Entre os que se molestam por não ter água e os que vivem o drama de ter a água a mais há-de estabelecer-se a solidariedade necessária para compreender e solucionar os problemas, reconstruindo e fazendo justiça social.

Nas bacias do Douro, do Mondego e do Tejo há hoje milhares de pessoas que não têm casa, nem trabalho. Há pessoas que tudo terão de começar de novo. E, ao lado do prejuízo nacional da fábrica que perdeu dezenas de milhares de contos em madeiras ou cortiça, há o drama do trabalhador rural que viu morrer na cheia a sua única vaca ou mula que o ajudava a rasgar a terra. Ao lado da cidade sem água, há o drama da casa de «taipa» que ruiu, soterrando a mobília pobre, a riqueza de um pobre, tão português como cada um de nós. A tudo isso, Sr. Presidente e Srs. Deputados, teremos nós de responder, superando querelas de corredor e pensando sobretudo no seu presente e no seu futuro.

Provou-se, infelizmente, que a protecção dó vale do Tejo, depois da construção das barragens que o sectorizam, obriga hoje a novas concepções técnicas, diversas das que presidiram séculos atrás à sua concepção. As técnicas dirão em que medida deverão, a partir desta evidência - a maior cheia de que há memória no vale do Tejo -, ser reformuladas as t eses da regularização dos caudais e da protecção da bacia hidrográfica mais rica do País e uma das mais ricas do mundo.

A partir de Santarém, forças armadas, com helicópteros e barcos, Governo Civil, Câmara Municipal, Cruz Vermelha Portuguesa, bombeiros, Comissão da Feira Nacional de Agricultura e centenas de voluntários organizaram uma eficaz e vasta cadeia de solidariedade que, antecipando-se às hesitações e lentidão do Governo ou à tomada de consciência nacional em relação à gravidade da tragédia, resolveu, a tempo e sem perda de vidas, problemas dramáticos e evacuações in extremis.

Restará agora, tal como disse, reconstruir e fazer justiça social. O Orçamento Geral do Estado não poderá deixar de contemplar, com generosidade e rigor, as verbas necessárias para fazer face à tragédia que, desde a Região Autónoma da Madeira até ao Ribatejo, passando pelas regiões do Douro e do Mondego, está a assolar todo o território nacional. E será dever de todos nós, Sr. P residente e Srs. Deputados, aprovar as propostas legítimas e os planos que correctamente nos forem apresentados, para além da própria iniciativa desta Assembleia.

Aplausos do PS, do PSD e do CDS.

O Sr. Magalhães Mota (PSD): - Peço a palavra, Sr. Presidente.