simbolizou, de facto, na sua máxima crueza, todo desse regime; foi o seu retraio. Claro que podemos também dizer, num outro sentido, que a existencia

do Tarrafal, como de outras prisões e lugares de tortura do fascismo, são um testemunho doloroso - mas vivo - que deve continuar vivo na nossa memória -, da resistência e da luta do povo português, luta que ao longo de décadas ajudou decisivamente a criar as condições que tornaram possível o 25 de Abril.

O sr. presidente, Srs. Deputados: A memória dos homens é por vezes curta. Rapidamente se esquece o passado, os maus dias, só porque se vivem dias melhores. Neste caso seria mau esquecer-se o passado, esquecer-se o que significou para o povo português o Tarrafal como as outras prisões políticas, a PIDE, etc., através das quais o fascismo tentou, pela prisão e pela tortura, pelas mais diversas formas de violência, silenciar todas as vozes da resistência, impedir a luta dos trabalhadores.

Hoje, passados que são cinco anos da revolução de Abril e no momento em que recordamos o campo de concentração do Tarrafal, não podemos deixar de chamar a atenção desta Câmara para o que consideramos constituir ameaças sérias ao regime democrático instaurado no nosso país no 25 de Abril. Os meios reaccionários já não se coíbem em instigar abertamente à violência, ao mesmo tempo que tecem rasgados louvores no passado fascista e aos seus expoentes máximos; ameaçam de morte patriotas: apelam ao ataque à integridade física de democratas só porque têm a coragem de continuar a defender valores essenciais do 25 de Abril: ameaçam, caluniam impunemente; gritam pela ilegalização do Partido Comunista, que o mesmo é dizer pelo fim da democracia portuguesa. São as vozes do passado que soam novamente com todo o despudor em apelos a novos Tarrafais.

Sr. Presidente. Srs. Deputados: A democracia é obra dos democratas. Ela c uma sua conquista, tem de ser objecto constante da sua defesa. Há quem diga que só se conhece bem o valor da liberdade depois de a termos perdido.

O Sr. Manuel Alegre (PS): - Muito bem!

O Orador: - Ora nós, democratas portugueses, conhecemo-lo bem, pois a perdemos durante quarenta e oito anos. Não permitamos que no-la tirem novamente. Que se juntem os esforços de todos os que estão com o 25 de Abril, de todos os que estão com a democracia, para que o regime democrático português persista como uma conquista irreversível do seu povo, para que não mais haja um Tarrafal na Pátria Portuguesa.

Aplausos do PCP, do PS e de alguns Deputados do PSD.

O Sr. José Luís Nunes (PS):- Peço a palavra, sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Faça favor, Sr. Deputado.

português, comunistas é certo, mas não só. Deve dizer-se que no mesmo abraço todos devemos unir as personalidades antifascistas de Bento Gonçalves e Mário Castelhano, que simbolizavam na altura o espírito combativo e antifascista da classe operária portuguesa.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente. Srs. Deputados: Hoje. recordar esta data é um dever e é um direito. É um dever porque quando se pretende difundir a ideia de que o regime fascista/salazarista foi um regime asséptico, um regime do repressão tecnocrática e em que a violência esteve limitada pelos chamados «brandos costumes do povo português» ...

O Sr. Manuel Alegre (PS): - Muito bem!

O Orador: - Deve dizer-se, de resto, que esta afirmação é unia afirmação ou insidiosa ou própria daqueles que nunca tiveram lugar na honrosa luta contra o fascismo em Portugal.

Vozes do PS e do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Todos nós, que soubemos na altura própria atacar Salazar, que soubemos na altura própria atacar o fascismo, que soubemos na altura própria defender os direitos cia democracia perante os carrascos do povo português, não temos a receber lições de democracia de quem quer que seja.

O Sr. Manuel Alegre (PS): - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Seja-me permitido realçar dois exemplos: um é o dos «capitães de Abril», que conquistaram as estrelas de generais na direcção e no combato do 25 de Abril, às quais têm mais direito que os generais do fascismo: ...

Aplausos do PS e do PCP.

O Orador: -... o outro, e permitam-me que em nome de todos nós saúde aquele que detém a legitimidade republicana desta Assembleia, a legitimidade constitucional e democrática, que é hoje - e foi outrora Vasco da Gama Fernandes - o nosso Presidente Teófilo Carvalho dos Santos, herói da democracia e da resistência antifascista.

Aplausos gerais.