O Orador: - A nota da comissão administrativa da RTP é um monumento de estupidez, de prepotência e de servilismo.
Aplausos do PCP, do PS e dos Deputados independentes Aires Rodrigues, Brás Pinto, Lopes Cardoso e Vital Rodrigues.
Umas e outras são sobretudo uma expressão da persistência de uma mentalidade inquisitorial, ultramontana, numa palavra, fascista, que pretende absorver o fascismo e transformar em motivo de execração pública a própria denúncia do fascismo feita pelos democratas.
O Sr. Carlos Brito (PCP): - Muito bem!
O Orador: - A desfaçatez vai ao ponto de acusar de inverdade, de deturpação histórica e de viciação factual realidades que ninguém de bom senso pode pôr em dúvida.
Vozes do CDS: - É falso!
O Orador: - Os que se levantam em altos brados para condenar o programa e os seus autores atrevem-se a cair no ridículo mais pedestre de negar a atrocidade histórica que o colonial-fascismo constituiu, ...
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Qual?!
O Orador: -... a identidade dos seus responsáveis, o âmbito das suas cumplicidades, tentando, designadamente, desmentir a evidente, permanente, activa e obscena solidariedade da generalidade da mais alta hierarquia eclesiástica com o regime fascista e com a guerra colonial.
Vozes do CDS: - Não apoiado!
O Sr. Pedro Roseta (PSD):- É falso!
Aplausos do PCP, do PS e dos Deputados independentes Aires Rodrigues, Brás Pinto, Lopes Cardoso e Vital Rodrigues.
O Sr. Pedro Roseta (PSD): - É falso! É um insulto ao Papa. É miserável!
Vozes do PCP: - Cala a boca!
O Orador: - A alta hierarquia católica em Portugal foi presidida durante muito tempo pelo cardeal Cerejeira.
O Sr. Pedro Roseta (PSD): - Você é repugnante! Respeite o Papa!
O Orador: - O despudor com que a este propósito se vêm invocar os «sentimentos religiosos» do povo português não tem qualificativo possível. Ofender os sentimentos religiosos do povo português é, pelo contrário, tentar apresentar como atentatória deles a denúncia do conúbio miserável que, a coberto deles, se fez entre a religião, o fascismo e a guerra colonial.
O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Miseráveis tu!
Aplausos do PCP, do PS e dos Deputados independentes Aires Rodrigues, Brás Pinto, Lopes Cardoso e Vital Rodrigues.
O Sr. Pedro Roseta (PSD): - Respeite o Papa! Você é repugnante.
O Sr. Herculano Pires (PSD): - Cala a boca, histérico!
O Orador: - A instrumentalização impudente de sentimentos religiosos para apoio da ditadura, da exploração e da opressão durante cinquenta anos de fascismo.
O Sr. Pedro Roseta (PSD): - Repugnante!
O Orador: - Repugnantes são aqueles que agora me acusam disso! São aqueles que agora tentam de novo invocar ...
O Sr. Pedro Roseta (PSD): - Repugnante!
O Orador: - ...ºs sentimentos religiosos para de novo os instrumentalizar ao serviço de uma campanha neofascista.
Aplausos do PCP, do PS e dos Deputados independentes Aires Rodrigues, Brás Pinto, Lopes Cardoso e Vital Rodrigues.
Protestos do CDS.
Os sectores reaccionários não se limitam a invocar-se a si mesmos - invocam a «agressão dos sentimentos do povo português», numa continuidade de processos ideológicos que não' pode deixar de ser sintomática. A mentalidade fascista e reaccionária, em geral, toma-se a si mesma pela consciência do povo, auto-erige-se em porta-voz da comunidade, faz-se representante dó sentimento nacional Como se a revolução antifascista não tivesse existido ou não tivesse passado de uma ilusão, a mentalidade reaccionária auto-investe-se, totalitariamente, em consciência nacional O Sr. Sá Carneiro sente-se agredido-então o povo foi «agredido». O Sr. Freitas do Amaral sente-se «agredido» - então o sentimento nacional foi agredido.
Aplausos do PCP e do PS e protestos do PSD e do CDS.
A síndroma fascista está patente: a direita não pode suportar que os sentimentos dos outros possam deixar de ser os dela.
O episódio de «Os Anos do Século» é também um sinal dos actuais tempos políticos...
O Sr. Narana Coissoró (CDS): - E é!
O Orador: -...expressão de um Governo que fora dos partidos e da vontade popular, se arroga é direito de intérprete livre e incondicionado do interesse nacional, do patriotismo «são» do sentimento nacional «bem entendido»; de um Governo que não tolera o exercício da inteligência, da liberdade crítica, do pluralismo das ideias; de um Governo que