O Sr. Presidente: - Tenha a bondade, Sr. Deputado.

O Sr. Magalhães Mota (PSD): - Agradecendo ao Sr. Deputado Herculano Pires a pergunta que me dirigiu, devo dizer que me parece ser essa a posição correcta. É evidente que qualquer programa, como qualquer texto ou qualquer obra, não tem uma só leitura, sendo possível fazer deles várias leituras.

Vozes do PS: - Ah!

O Orador: - A imagem tem precisamente essa característica: um carácter ambivalente. Nesse aspecto estou perfeitamente de acordo consigo.

Vozes do PS: - Ah!

O Orador: - Mas, apesar das exclamações de espanto que ouvi e que gostaria que fossem mais bem esclarecidas, porque se forem fundamentadas terei muito gosto em lhes responder - facto que seria interessante para este Plenário, e não para mim pessoalmente -, direi que não me parece que essa leitura possa ser feita. Na verdade, se a imagem dos soldados fosse apresentada isoladamente ou num contexto em que só a sua imagem fosse utilizada, talvez pudesse concordar com a interpretação feita pelo Sr. Deputado Herculano Pires.

A verdade, porém, é que a imagem repetitiva das mensagens de Natal dos soldados foi exibida alternadamente com o mesmo tipo de discurso do então Presidente da República.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Precisamente.

O Orador: - Portanto, Sr. Presidente e Srs. Deputados, penso que não se procurava causar.

O Sr. Carlos Brito (PCP): - Ai essa inteligência, Sr. Deputado! ...

O Orador: - Sr. Deputado Carlos Brito, porque ouvi a sua afirmação, devo dizer-lhe que me parece evidente que, dentro dos esquemas de montagem Cinematográfica, que também são utilizadas pela televisão, este tipo de montagem não pode ter senão um de dois efeitos: ou se pretendia uma analogia ou se pretendia um contraste. É evidente que o efeito do contraste não foi obtido, visto que esses discursos eram repetitivos.

Aplausos do PSD.

O Sr. Carlos Brito (PCP): -Posso interrompê-lo, Sr. Deputado?

O Sr. Cunha Simões (CDS): - Quando é que vocês acabam com essa discussão?!

O Orador: - Tenha a bondade.

O Sr. Carlos Brito (PCP): -Sr. Deputado Magalhães Mota, muito obrigado por me ter permitido fazer esta interrupção que me parece que poderá de algum modo esclarecer a questão em debate.

O esclarecimento que queria prestar é o seguinte: é evidente, pelo menos assim me pareceu e penso que toda a gente que viu o programa com disponibilidade para o compreender e não para o denegrir ...

A Sr.ª Zita Seabra (PCP): - Muito bem!

O Orador: -... tem a mesma opinião, que o efeito pretendido era de contraste eram as vítimas, apresentadas na época de Natal, e os vitimadores.

O Sr. Herculano Pires (PS): - Muito bem!

O Orador: - Agradeço a interrupção do Sr. Deputado Carlos Brito, porque efectivamente ela permitiu esclarecer, até em termos do mesmo programa televisivo, como uma montagem poderia ter sido feita de um modo diferente se se pretendesse transmitir aquilo que o Sr. Deputado quer ler no texto transmitido.

Penso que, por exemplo, se o texto das mensagens de Natal dos soldados fosse utilizado pela montagem com imagens intercalares dos feridos e dos mortos, que eram esses mesmos soldados, então, sim, seria lícito admitir como leitura que esses soldados eram vítimas dos ferimentos, da guerra, de tudo isso.

Aplausos do PSD.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Também foram intercaladas com essas imagens.

O Orador: - Mas quando as mensagens dos soldados são montadas, não sob esse aspecto, mas justamente com os discursos do Sr. Almirante Américo Tomás,...

A Sr.ª Alda Nogueira (PCP): - E não só, Sr. Deputado!

O Orador: -... não me parece que seja lícito ler o discurso contrastante, mas sim unicamente o discurso analógico de mensagens repetitivas.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - Posso interrompê-lo, Sr. Deputado?

O Sr. Cunha Simões (CDS): - Acabe com isto, Sr. Presidente!

O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.

Entretanto assumiu a presidência o Sr. Vice-Presidente António Arnaut.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Magalhães Mota vai desculpar o facto de também eu o interromper, mas devo alertá-lo de que o Regimento - e que eu saiba ainda não foi alterado- apenas concede três minutos para as respostas a pedidos de esclarecimento.

Em todo o caso, queira continuar, Sr. Deputado.

O Orador: - Sr. Presidente, peço a sua benevolência, pois creio que as interrupções são úteis para o debate e só por isso estou a permitir o uso da palavra para me interromperem. Mas se o Sr. Presidente ...