Lembremo-nos, todos os que queremos defender a democracia, de que o regime democrático há-de ser, antes de tudo, nível e qualidade de vida, eficácia, progresso e justiça, criação de riqueza e sua justa distribuição, ou então nada será no mero plano formal, jurídico e político.

O Sr. Guerreiro Norte (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Não tentemos fechar os olhos à situação que aí está: ela só piora se fingirmos não a ver.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - É nesta situação que continuamos a assistir a uma certa agudização de lutas políticas, tal e tanto que não se constituem coligações estáveis mas, mal um Governo entra em funções, logo se lhe criam condições para pouco ou nada poder fazer. É lamentável que o culto doentio do desespero, gerado pela desilusão democrática de alguns e pela convicção antidemocrática de outros, se compraza em desenterrar os fantasmas do passado ou em procurar afanosamente todos os esqueletos que existem escondidos em todos os armários do país. Já nos basta a situação que temos, não precisamos de a agravar com isso.

Vozes do PSD: - Muito bem!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Ou então, na inoportuna polémica sobre a descolonização, alguns tentaram lançar querelas sobre os próprios fundamentos das forças armadas - a sua honra, dignidade e patriotismo. Muito mal estamos da mania persecutória, quando uns querem julgar já a Igreja e outros as forças armadas.

O Sr. Cunha Rodrigues (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Tiremos do passado todas as lições úteis. Mas deixemos por uma vez de nos julgarmos uns aos outros, chegando ao ponto de iniciar pretensos julgamentos sobre as mais prestigiadas e representativas instituições nacionais.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - O passado morreu: deixemos de olhar para trás e de nos dividirmos por ele. Olhemos decididamente o futuro. Queiramos o futuro, que se faz tarde, para recuperar atrasos e erros que nos cabe agora apenas emendar. Sem ignorar as naturais tensões sociais, não deitemos azeite no fogo que já arde. Recusemos os demónios da confrontação, da divisão, da desforra ou da restauração messianista;

empenhemo-nos antes num grande esforço de diálogo, de solidariedade, de reconstrução nacional na democracia.

O Sr. Macedo Pereira (CDS): - Muito bem!

O Orador: - Não discutamos mais quem errou ou teve razão na I República, quando temos à porta os desafios do ano 2000.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Se assim fizermos, então a paralisia que progressivamente nos atinge, e cada dia nos atrasa mais relativamente à Europa, será vencida. É urgente reatar o diálogo entre os Portugueses, começando pelas instituições que representam todos os cidadãos - o Presidente da República e nós nesta Assembleia -, todos nós e só nós todos. É urgente construir entendimentos sólidos sobre o funcionamento das instituições, a realização das próximas eleições, a política económica a médio prazo que há-de constar do Plano, as grandes reformas estruturais necessárias para consolidar o Estado e dar vida a uma sociedade democrática autónoma, livre e progressiva. Nada disto pode ficar à espera da próxima eleição presidencial e muito menos da distante revisão constitucional, que não são condição prévia da resolução dos nossos problemas de fundo, mas hão-de ser, antes, o coroamento de um processo de desejável e imperiosa consolidação da nossa democracia. Criemos condições par a articular devidamente o Presidente da República e os partidos, para evitar afrontamentos entre forças armadas e poder civil ...

O Sr. Macedo Pereira (CDS): - Muito bem!

O Orador: - ..., para dar representatividade e prestígio maiores a esta Assembleia e às demais instituições democráticas, para que haja um Governo estável que possa governar, para que se formem maiorias estáveis e as minorias, que não podem ser excluídas do convívio democrático, respeitem a sua vontade legítima. De outra forma, nem seremos nunca europeus - pois a Europa não é o espaço conservador e retrógrado que tantos hoje nos vêm para aí pintar- nem alcançaremos o sonho democrático de progresso que o 25 de Abril tornou possível.

O Sr. Guerreiro Norte (PSD): - Muito bem!

O Sr. Macedo Pereira (CDS): - Muito bem!

O Orador: - As escolhas são simples: ou trabalhamos duramente para construirmos todos um futuro melhor, ou preparemo-nos para sofrer as consequên-