números de expressão tão modesta, há que desconfiar que nem a comissão administrativa acredita no tal «dinamismo das empresas privadas» que anuncia querer introduzir.

Outros números são demagogicamente apresentados. As despesas referentes a áreas não directamente ligadas à produção radiofónica ou as verbas destinadas ao pagamento de horas extraordinárias, trabalho nocturno ou ajudas de custo são demasiado pouco significativas dentro das contas gerais para merecerem o destaque que têm. A verba para o trabalho ;nocturno, de 13 843 contos em 1978, representa, afinal, 2,5 % da massa salarial para o mesmo ano, sendo caso para perguntar se a utilização destes números de forma tão empolada significa que a RDP vai passar a fechar às 20 horas e a reabrir às 8 horas da manhã ...

Mas se existe uma utilização demagógica dos números referentes às contas de exploração da RDP de que demos apenas alguns casos exemplificativos, a verdade é que esse facto é bem menos grave do que a su cessão de actos arbitrários contra o pluralismo, a liberdade e a função social daquele órgão de comunicação.

Igrejas Caeiro, Deputado desta Assembleia, um dos nomes que ficará ligado à história da rádio em Portugal, foi exonerado das suas funções com um pretexto fútil. O Conselho de Informação para a rádio considerou o despedimento como um saneamento político. Apesar de o Sr. Ministro da Comunicação Social nos ter vindo aqui explicar, há uma semana, que ele fora demitido por uma comissão administrativa entretanto exonerada e que tinha muita consideração por Igrejas Caeiro, a verdade é que nem a recomendação do Conselho de Informação foi tida ainda em conta, nem o próprio lugar de director de Programas existe já, depois da nova reestruturação da RDP .... .

Aplausos do PS, do PCP, da UDP e dos Deputados independentes Vital Rodrigues, Lopes Cardoso e Brás Pinto.

O programa «Contraponto» e o seu realizador José Manuel Nunes foram silenciados depois da transmissão de uma série de depoimentos sobre uma paralisação de trabalhadores da zona da Reforma Agrária. Uns dias antes, o mesmo programa transmitira, com o mesmo critério, alguns depoimentos sobre o Congresso das Actividades Económicas sem que nada acontecesse. José Manuel Nunes é um dos mais competentes realizadores da rádio portuguesa. Trabalhou antes do 25 de Abril na Rádio Renascença e mais tarde em Colónia, na Deutsch Welle. Foi agora despedido. Um dos mais prestigiados e competentes profissionais da rádio portuguesa ver-se-á provavelmente obrigado a emigrar ou a mudar de profissão.

Aplausos do PS, do PCP, da UDP e dos Deputados independentes Vital Rodrigues, Lopes Cardoso e Brás Pinto.

O programa «Contraponto» era um dos programas com maior popularidade. Apesar do seu horário de transmissão à mesma hora que a TV estava num dos primeiros lugares em audição no já célebre, tão falado, mas tão deturpadamente citado «Estatuto de audiência e opinião da rádio», elaborado pelo Gabinete de Estudos da Radiodifusão.

Parece ser, aliás, a altura de nos referirmos um pouco mais a este estatuto de audiência, que de forma tão deturpada tem vindo a ser utilizado. E já que a comissão administrativa da RDP utiliza alguns dados sem os enquadrar, nem divulgar o conjunto dos resultados, parece aconselhável esclarecer alguns pontos desse estudo.

A sondagem foi realizada durante o Verão, ao contrário das anteriores, o que explicará grande parte da quebra de audiência verificada, aliás extensivo, note-se, à RTP e à própria Rádio Renascença.

De qualquer forma, ela revela que a RDP continua a ter, no conjunto dos quatro canais, uma popularidade muito superior à Rádio Renascença.

Por outro lado, ainda em relação ao «Contraponto», acusado de ter um conteúdo «ideologicamente agressivo», cabe aqui referir ainda que não só ele foi muito- menos sensível à quebra verificada nos outros programas devido à altura do ano, como também ele foi menos rejeitado do que o «Programa da Liga dos Amigos da Rádio Renascença», cujo sucesso fácil tanto impressiona os- responsáveis pela RDP, provavelmente interessados em criar também um programa