mita a transferência para outros meses dessas outras questões.

Se me permitisse, diria ainda que penso que estamos chegados à situação em que, no fundo, o Governo promete fazer todos os esforços no sentido de reduzir despesas para evitar a cobrança do imposto, e a Assembleia, de certa forma, diz ao Governo o seguinte: então faça primeiro os esforços que depois nós veremos a questão do imposto.

O Orador: - A Assembleia desconfia do Governo e o Governo apresenta-se à Assembleia com um Orçamento desequilibrado para corresponder a essa desconfiança. É esta a proposta, não é? Eu tomo boa nota, Sr. Deputado ...

Depois o Sr. Deputado António Guterres falou no «cabaz de compras». Pensamos que o subsídio será de 11 milhões, o que corresponde a um aumento de preços inferior, como já disse, a 21,7 em 1977, de 21,13 em 1978 e de 18 este ano, dentro de tal perspectivo que tínhamos do «tecto» salarial.

Também se referiu ao problema de que não conviria reduzir muito o consumo privado. Ora bem, o consumo privado não é reduzido e pensamos que nas projecções macroeconómicas que se fizeram o consumo privado deve crescer a uma taxa de metade do produto bruto, portanto a 1,5 %. É esta a previsão que temos para o consumo privado. Não é um crescimento famoso nem aquele que desejaríamos, mas nestas matérias não podemos trabalhar muito com desejos e temos de trabalhar com - parece que já aqui foi dito por alguém - a nudez crua da verdade.

De resto, o problema do Governo no que respeita à parte do consumo privado e da fixação do «tecto» salarial insere-se nesta política. Reconheci aqui, num esclarecimento que dei à Assembleia aquando da discussão do Programa do Governo, que os trabalhadores tinham um nível de vida em 1977 de cerca de 9,5 quanto ao poder de compra e de 3,9 em 1978. Gostaríamos - e lá estamos outra vez a falar entre a verdade e os desejos que poderiam ser considerados fantasiosos que esta percentagem de menos 3,9 se transformasse em mais 3,9. Se chegarmos a zero, quer dizer, se este ano conseguíssemos que os trabalhadores sustivessem a queda do seu poder de compra, se chegassem ao tal nível zero de que o Sr. Deputado António Guterres não gosta, o Governo gostava que, efectivamente, o poder de compra dos trabalhadores não se reduzisse em menos 3,9. Isso não é suficiente e não satisfaz as várias bancadas desta Assembleia, pois todas elas- desejariam os mais 3,9, mas já ficávamos satisfeitos.

O Sr. António Guterres (PS): - Dá-me licença que o interrompa, Sr. Vice-Primeiro-Ministro?

O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. António Guterres (PS): - É só para dizer ao Sr. Vice-Primeiro-Ministro que também ficaríamos extremamente satisfeitos. A nossa dúvida é que estamos convencidos de que, ao ritmo a que as coisas estão a correr, e a serem aprovadas as propostas do Governo neste domínio, nem o consumo privado crescerá de 1,5 % nem o poder de compra se manterá. Não é, pois, em relação a um juízo de valor mas sim em relação a um juízo de facto que há, neste caso, uma discordância entre o Governo e o Grupo Parlamentar do Partido Socialista.

scordo ainda do Sr. Deputado - aliás, já o disse duas vezes e volto a repetir - até porque os discursos já não têm impacte no povo português, que está farto de discursos, promessas e tudo o mais, e o que quer é acções e ver os seus problemas concretos resolvidos, e, embora possamos ser considerados um pouco pragmáticos, o nosso pragmatismo traduz precisamente a tentativa de solucionar os problemas da melhor forma que pudermos e soubermos, mas sem estar com preocupações quanto a essas referências ao «tecto» dos 18 % ao imposto extraordinário, ao orçamento da Segurança Social e a Lei das Finanças Locais, porque temos é de apresentar outras soluções.

Nós procuramos, efectivamente, as melhores soluções e na disposição de encarar outras alternativas