O Sr. Cunha Simões (CDS): - Não é verdade, Sr. Deputado.
O Orador: - ..., a minha saúde é perfeita, tenho a tensão arterial normal, o coração a funcionar muito bem, tendo simplesmente umas pequenas perturbações intestinais de pequena importância ...
O Sr. Teodoro da Silva (PSD): - Isso são gases!
O Orador: - ... e foi ao doente que já não sou, mas que amanhã poderei vir a ser, que aconteceram duas coisas a que me parece que a Câmara não pode ser indiferente.
O primeiro facto foi este: um dia, na bela vila de Sintra, tão cantada por Lord Byron, este vosso colega e amigo - suponho que não ofendo algumas pessoas aqui presentes ao tratá-las por amigos - teve uma grave crise de saúde. Era meia-noite de um domingo e a minha mulher, aflita, como era natural, ajudada pelo pessoal da pensão onde estava hospedado, consultou a lista telefónica, ligou para todos os telefones dos médicos de Sintra, de Queluz e da Amadora e quando eram 4 horas da manhã ainda nenhum médico me tinha aparecido à cabeceira; estavam todos a dormir com as suas senhoras, ou com outras senhoras, mas não tenho nada a ver com isso ...
O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Haja saúde!
O Orador: - 0 que era facto é que estavam ausentes de suas casas; nenhum deles estava presente naquele momento e eu só pude seguir este caminho, Srs. Deputados: arrastar-me como pude para dentro de um automóvel e dirigir-me ao Hospital de Sintra, onde estive à espera cerca de três quartos de hora até que viesse um médico estremunhado que me fez uma observação, que me pareceu imensamente deficiente, mas que teve, no entanto, uma declaração que me sensibilizou. Disse-me ele: "Sr. Dr. Vasco da Gama Fernandes, eu não percebo nada disto".
Não sei se esse médico é daquelas gerações recentes acerca dos quais muitas vezes as pessoas, quando vão às casas de saúde, dizem: "Eu quero um médico, mas não o quero com menos de 40 anos. " Parece que também há disto! ...
O Sr. Narana Coissoró (CDS): - É o que vai encher o SNS do Projecto Arnaut-PCP.
médicos de clínica geral e de cirurgia ...
Neste momento o Sr. Deputado António Arnaut (PS) dirige-se para a saída principal do hemiciclo.
Sr. Deputado António Arnaut, tenho tanta pena de não poder continuar a olhar para si quando estou a falar para me poder inspirar ainda mais ...
Mas, como possivelmente tem alguma coisa para fazer, faça favor de seguir o seu caminho, porque eu depois conto-lhe o resto.
O Sr. António Arnaut (PS): - Eu volto já, Sr. Deputado, mas agora tenho uma chamada urgente.
O Orador: - Como estava a dizer, nesses centros médicos, além de médicos de clínica geral e de cirurgia, até lá existe um dentista a trabalhar toda a noite com uma aparelhagem pronta a ser deslocada ao sítio onde se encontra o doente que não possa acorrer ao centro médico.
Na altura que referi fui observado demoradamente pelo médico, que depois se sentou numa cadeira a fazer as suas contas, a escrever muito. Aconteceu que, como estávamos no domingo e eu já tinha pouco dinheiro, perguntei à minha mulher o que é que nos iria acontecer com a conta que o homem nos ia apresentar, já que era uma observação feita de madrugada - aliás, a cólica, felizmente para mim, não tinha grande importância. Mas sabem de quanto era a conta que me apresentou o médico sueco?
O Sr. Narana Coissoró (CDS): - 7$50, que era o que se pagava em Londres ...
O Orador: - Mas está muito modesto hoje, Sr. Deputado Narana Coissoró!
O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Eram dois xelins, ao câmbio de l974.
O Orador: - Não, Sr. Deputado. Paguei 40$00. Mas o que é isto em comparação com o que pagou uma pobre amiga minha que foi operada a uma verruga há poucos dias num hospital ou numa casa de saúde de Lisboa, não sei bem, uma verruga que foi tirada, e para a qual só foram feitos três pensos e que, creio, voltou a nascer.
O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Era cancerígena?