curta experiência - outros tê-la-ão maior -, dizer alguma coisa sobre o problema que está a ser objecto do nosso estudo e da nossa apreciação.

Ao ler o artigo 64.º da Constituição da República vejo aqui escrito de uma forma exemplar que «o direito à protecção da saúde é realizado pela criação de um Serviço Nacional de Saúde universal, geral e gratuito, pela criação de condições económicas, sociais e culturais ... » e com todo o respeito pelos meus amigos do Grupo Parlamentar do CDS quero dizer-lhes que não encontro nesta passagem do artigo 64.º da Constituição qualquer fundamento para o projecto de lei que apresentaram e que está também em discussão. Até supus que esse fundamento estivesse nas «Erratas», mas nem lá está ...

Quero dizer com toda a franqueza que me parece que, se tem havido um pouco mais de equilíbrio e de bom senso - uma coisa que falta há muito neste pais, e cada vez mais -, teria sido possível numa mesa-redonda em que todos nós, verdadeirame

Aplausos do PS e do PCP.

Como dizia, esse colóquio era presidido pelo Prof. Miller Guerra e quando eu estava à espera, como era natural, que se discutisse o problema de fundo do Serviço Nacional de Saúde, perante o meu espanto, as pessoas presentes limitavam-se, até à altura em que intervim, a discutir a falta de camas nos hospitais, a carência de fundos, a exiguidade dos vencimentos dos médicos, o que dava o ar de uma reunião perfeitamente materialista e que não estava nada nos meus propósitos.

0 Prof. Miller Guerra, generosamente, alargou o colóquio às pessoas - presentes e o único que não era médico, que era eu, pediu a palavra e disse: «Srs. Drs., eu sou um «advogado de clínica geral» e um candidato permanente ao campo de concentração do Hospital de S. José», ...

Risos do PS.

... isto para usar uma expressão muito querida do Prof. Miller Guerra. A seguir coloquei-lhes dois ou três problemas que nessa altura me pareceram essenciais e, em primeiro lugar, como não podia deixar de ser, o da socialização da Medicina. E, coisa curiosa, esboçou-se imediatamente um certo movimento de oposição aos conceitos do tal «advogado de clínica geral». Essas tomadas de posição pareceram-me perfeitamente injustas

e até me magoaram porque precisamente algumas das pessoas que se opuseram a esses meus conceitos eram indivíduos que considero da esquerda democrática deste pais.

Mas, como tudo na vida tem o seu reverso, consoladamente, verifiquei que os jovens médicos, em número de uma centena ou de centena e meia, que se encontravam presentes, rapazes e raparigas, me aplaudiram

sobretudo quando eu disse que um Serviço Nacional d Saúde, como aliás agora se encontra inserido no texto constitucional, só poderia ser viável neste pos em condições perfeitamente justas e humanas desde que se reestruturasse profundamente a própria sociedade portuguesa.

O Sr. António Arnaut (PS): - Muito bem!

r-me, por exemplo, de Henriques Fernandes Nogueira, com a sua concepção de certo modo bizantina de uma república federalista. Aliás, nos programas dos partidos republicanos de então e consequentemente depois deles sempre se falou do problema do Serviço Nacional de Saúde.

Perante esta Constituição da República que se encontra à minha frente, concretamente o seu artigo 64.º, e na persuasão de que hoje não poderei estar presente na altura da votação na generalidade dos projectos de lei em apreço, quero declarar peremptoriamente à Câmara que dou a minha adesão total ao projecto do Partido Socialista.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Projecto «Arnaut-PCP!»

O Orador: - Entendo que é ele que pelo menos procura fazer a transição do egoísmo estratificado em muitas camadas da sociedade portuguesa para um tipo de frescura, de novos pensamentos sociais entre os quais se insere de forma totalmente evidente o problema da saúde pública deste país.

O meu voto está, portanto, declarado, embora não possa ser contado, pois, como já disse, suponho não poder estar presente na altura da votação.

Antes de entrar nesta Sala disse a alguns amigos que ia fazer um depoimento como doente e talvez tenha certa razão para isso. Felizmente, para alegria dos meus amigos e desespero para alguns que não gostam de mim ...