O Sr. Salgado Zenha (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Lamento que o Sr. Engenheiro Amaro da Costa ponha hoje a sua inteligência, que todos reconhecem, ao serviço de uma arte que é conhecida, em termos correntes, pela pura sofística. Nós aplaudimos a demissão do Governo Mota Pinto pelo Sr. Presidente da República. É, evidentemente, um sinal inequívoco do nosso comportamento. Não protestámos contra esse facto. Quem protestou contra esse facto foi a bancada do CDS, que se manteve num silêncio e num imobilismo um pouco perturbados pelo desgosto que lhe provocou essa notícia.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador - Em segundo lugar, nós apelámos para que o Governo Mota Pinto se demitisse e não fosse necessário accionarmos os mecanismos constitucionais. Mas, mesmo que ele tenha pedido a demissão, também a achamos normal após a apresentação das moções de censura. O que não achamos normal é que, tendo-se furtado e esquivado ao seu debate na Assembleia da República, o queira fazer fora desta Assembleia. Ou ele assume esse combate ou então esquiva-se a esse combate. O que ele não pode, tendo tomado uma atitude inicial de fuga, é agora dar-se ares de muito valente.

O Sr. Cunha Simões (CDS): - Já chega!

O Orador: - Espero que com estes esclarecimentos tenha terminado o jogo de pingue-pongue entre nós, até para não fatigar mais o Sr. Engenheiro Amaro da Costa que já está com ar cansado.

Risos gerais.

O Sr. Amaro da Costa (CDS): - Peço a palavra, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, assim nunca mais acaba o diálogo. O Sr. Deputado Pedro Roseta até já se está a sentir incomodado.

Não pode ficar para outra altura?

O Sr. Carlos Robalo (CDS): - Não, Sr. Presidente, não pode ser.

O Sr. Presidente: - Então faça favor, Sr. Deputado Amaro da Costa.

O Sr. Amaro da Costa (CDS): - Sr. Presidente, eu queria comunicar à Mesa, a quem me dirijo neste momento, primeiro, que realmente posso atestar que não estou cansado, isto para efeitos do registo de presenças pelo Sr. Secretário Maia Nunes de Almeida, em segundo lugar, que tenho sempre muito em conta aquilo que o Sr. Dr. Mário Soares diz na televisão, sobretudo aquilo que disse ontem quando reconheceu que era patriótico que o Primeiro-Ministro se demitisse.

Aplausos do CDS.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Roseta.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Este minidebate não pode ser, com o nosso acordo, uma substituição do debate das moções de censura. Ele não prestigia esta Assembleia e defendemos que lhe deve ser posto termo.

O Sr. Nuno Abecasis (CDS): - Não apoiado!

O Orador: - Mas, já agora, também quero dizer ...

Vozes do PS e do PCP: -Ah!!!

O Orador: -... que aquilo que nos preocupa - e é a única coisa que eu digo, se a agitação psicomotora ou outra das bancadas do Partido Socialista e do Partido Comunista me deixar que eu diga, e tenho todo o direito de o dizer - é que não só estes assuntos não podem ser discutidos, assim como também a situação do País, não só política, mas económica e financeira, e o nível e qualidade de vida dos Portugueses são suficientemente graves, a nosso ver, para nós não só não participarmos neste debate como nem sequer batermos palmas. Esse é que foi o motivo da nossa atitude (risos), tanto mais que, como se ouviu, não foi apontada a única solução que para nós existe para a crise, a consulta ao povo soberano, nem qualquer outra, aliás.

Chamo, pois, a vossa atenção, Srs. Deputados, para tudo isto, porque assim nenhum de vós sairá daqui prestigiado. A situação é grave ...

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Muito!

O Orador: -... e não vejo que haja para nenhum de nós motivo de regozijo.

Aplausos do PSD.

O Sr. Salgado Zenha (PS): - Peço a palavra, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Para que efeito?

O Sr. Salgado Zenha (PS): - É para dizer ao Sr. Deputado Pedro Roseta que o minidebate travado entre mim e o Sr. Engenheiro Amaro da Costa não desprestigiou esta Assembleia.

Aplausos do CDS e ao PS. Lamento não poder dizer o mesmo da intervenção do Sr. Deputado Pedro Roseta.

Vozes do PS: - Muito bem!