Achamos até que já se fez aqui uma coisa que julgo inédita, que é discutir, tanto quanto me apercebi, leis que já foram aprovadas nesta Assembleia. Mas o que é que ainda estaremos para ver, Sr. Presidente?!

O Sr. José Vitorino (PSD): - Muito bem!

O Sr. Lopes Cardoso (Indep.): - Sr. Presidente, peço a palavra.

O Sr. Presidente: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Lopes Cardoso (Indep.): - Sr. Presidente, muito rapidamente era apenas para dizer que, aos meus olhos e creio que aos de outros Deputados, a intervenção do Sr. Deputado Pedro Roseta terá pelo menos confirmado algo daquilo que há pouco afirmei na minha intervenção.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Vasco da Gama Fernades.

O Sr. Vasco da Gama Fernandes (Indep.): - Sr. Presidente, V. Ex.ª tinha razão quando no início desta sessão colocou o problema à Câmara, a meu ver com toda a correcção, na medida em que, depois da comunicação que chegou à Mesa, V. Ex.ª teve a bondade de a ler. Mas depois disso suponho que só havia uma coisa a fazer, que era encerrar a sessão e irmo-nos embora.

Aplausos do PSD e protestos do PS.

Mas, já que a sessão continuou -antes de mais nada quero dizer que as palmas não me comovem nem os protestos me perturbam...

Mas, como ia dizendo, já que a sessão continuou, queria dizer a V. Ex.ª que tenho estado aqui atento, como aliás é meu dever, mas um pouco estarrecido com o que se está a passar. Ontem, por exemplo, na televisão assistimos às descomposturas de duas pessoas respeitáveis, com problemas que não interessavam ao povo português. A seguir tivemos uma espécie de «futebolismo político», que teria, de certo modo, algum interesse, mas também me parece que foi bastante indiferente ao povo português. Agora uma nova originalidade: estamos aqui com apupos e com aplausos em face das exéquias de um Governo. Não percebo o que é que estamos aqui a fazer, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, não se está a ouvir quase nada. Era favor falar mais perto do microfone.

O Sr. José Vitorino (PSD): - Eu estou a ouvir muito bem!

O Orador - Sr. Presidente, tenho uma certa aversão a este «sorvete».

Suponho que a Câmara teria ouvido o que disse, mas quero dizer-lhe que o problema que se está aqui a tratar está totalmente deslocado.

Estamos na presença de uma comunicação feita pelo modo que V. Ex.ª acabou de ler. Esta Câmara não tem de voltar a discutir problemas que já estão transitados, como os do Orçamento, das contas, das opiniões de cada um dos partidos.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador - Acho que estamos a dar um espectáculo quê, podem ter a certeza, não é indiferente ao povo português, que há-de estar neste momento tão estarrecido como alguns de nós perante aquilo que está aqui a passar-se, que é um espectáculo de muito mau gosto ...

Vozes do PSD: - Muito bem!

Vozes do PS: - Não apoiado!

O Orador: -... e que não adianta coisa nenhuma. Estamos na presença de uma crise cuja evolução não podemos prever, e pedia aos Srs. Deputados, se quiserem, porque se não quiserem também não me importo com isso, um pouco de respeito pelos mortos, já que se trata de umas exéquias, e que fôssemos trabalhar, que é uma coisa que há muito tempo se não faz nesta Câmara, com acerto e com consideração.

Vozes do PSD: - Muito bem!

Vozes do PS e do PCP: - Não apoiado!

O Orador - Eu não ouvi agora os piropos que me foram dirigidos da minha direita, e pena é, pois gosto que, quando as pessoas falam, falem de maneira que eu as entenda.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Sr. Deputado, pela parte que me toca, eu disse apenas «não apoiado».

O Orador - Isto de «meias bocas» não me serve. Quando quiserem dizer-me alguma coisa, digam-ma frontalmente e de caras e não com a boca meio fechada.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, fale para o microfone, se faz favor.

O Orador: - Estou a falar ao microfone.

O Sr. Presidente: - Mas pela maneira como o faz não se ouve.

O Orador: - V. Ex.ª é que naturalmente não ouve, mas a culpa não será minha.

O que lhes garanto é que, se os Srs. Deputados estão convencidos de que estão a fazer uma bonita figura, estão totalmente enganados - é pelo menos essa a minha convicção.