mudança, mas as eleições não podem ser vistas isoladamente da vida política do País e daquilo que nele se passa entretanto. E é evidente que nós consideramos negativa, não só quanto à natureza do acto eleitoral em si, que desejamos, como quanto ao processo que se irá desenvolver no País daqui até lá, a investidura deste Governo.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Agora está a explicar muito claramente!

O Orador: - Ainda bem!

O País é mais importante do que os partidos. Portugal é mais importante do que os objectivos, e mesmo do que os objectivos razoáveis, dos partidos.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - 0 nosso comportamento é pautado pela nossa leitura do interesse nacional e, nessa medida, aquilo que é naturalmente o interesse do País. Mas quero acrescentar-lhe mais dois pontos a este propósito.

O Sr. Vita1 Moreira (PCP): - Já está tudo clarinho!

O Orador: - Querem censurar-me? Querem que eu me cale?

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Só estou a dizer que já está tudo clarinho!

O Orador: - Mas eu não quero calar-me agora. A censura ainda não chegou, mas pelo que se vê...

O Sr. Carlos Brito (PCP): - De censura o senhor é que sabe!

O Sr. Carlos Brito (PCP): - 0 problema é do País.

O Orador: - Do nosso lado não há contradição. 0 problema é saber onde é que cada força política e cada órgão de soberania, em Portugal, se quer colocar, para que o País possa julgar com conhecimento de causa. Por isso apresentámos a moção de rejeição.

O Sr. Nuno Abecassis (CDS): - Já percebeu?

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Desta vez foi claríssimo.

Aplausos do CDS.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Magalhães Mota.

O Sr. Magalhães Mota (Indep.): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Começaria por fazer uma citação, porque eu ainda sou do tempo em que entre a máscara da «avózinha» e a máscara do «lobo mau» o Sr. Deputado Amaro da Costa preferia a do «capuchinho vermelho».

Dizia o Sr. Deputado Amaro da Costa, precisamente na sessão da Assembleia da República do dia 10 de Fevereiro de 1978: «Não podendo ou não tendo querido basear os seus motivos de queixa em documentos programáticos, os adversários do Governo foram à procura de questões laterais, irrelevantes ou formais para fundamentar o seu zelo oposicionista.»

A fulanização do Governo e a caracterização ou descaracterização apriorística das pessoas que o compõem tem sido, deste modo, um dos motivos políticos invocados. Em Portugal sempre foi assim: quando não há razões de fundo ou capacidade para as descobrir, vai-se para os ataques pessoais.

O Sr. Nuno Abecassis (CDS): - Não percebeu!

O Orador: - Estou bastante de acordo com as afirmações do Sr. Deputado Amaro da Costa, e daí a minha primeira pergunta: o Sr. Deputado Amaro da Costa e o seu partido iniciaram a oposição a este Governo logo que conhecido o nome do Primeiro-Ministro, isto é, antes da composição do Governo, antes da apresentação do seu Programa. Mas a apresentação da moção de rejeição tardou até há cerca de uma hora. Ponho, pois, a questão: se isto traduz algum arrependimento por uma precipitação que traduziria o tal ataque pessoal ou, Sr. Deputado - e é a pergunta -, se, pelo contrário, afinal foi útil conhecer o Programa, afinal é útil participar deste debate, afinal tudo quanto disseram antes foi apenas um «capuchinho».

Segunda questão: gostaria de o situar num campo em que o Sr. Deputado se situou há pouco dizendo que o fair-play funcionava para os dois lados. Esta é uma afirmação curiosa, porque significa que quando alguém é totalitário se lhe responde com totalitarismo, quando alguém é não democrático se lhe responde com não democracia. Estranha afirmação a sua! E não gostaria que também ela passasse sem comentário neste debate, porque não me parece que, quaisquer que sejam os limites ultrapassados por um adversário, seja permitido àqueles que se reclamam de outro tipo de comportamento seguir afinal o mesmo e manifestarem-se iguais.

Terceira e última questão - retomo a questão do meu colega Furtado Fernandes, à qual o Sr. Deputado não respondeu: afinal, sim ou não o Sr. Deputado é contra o socialismo? Afinal, sim ou não o Sr. Deputado não quer parceiros socialistas? E, já agora, explique-nos só mais uma vez a sua participação no II Governo.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Amaro da Costa.