A Sr.ª Zita Seabra (PCP): - Eu não pedi a palavra para um contraprotesto, mas só para um esclarecimento ao Sr. Deputado Rui Pena.

Fico realmente espantada, pois é a primeira vez que ouço o CDS apoiar claramente aqui, nesta Assembleia, uma greve.

Até aqui, Sr Deputado, nunca tinha ouvido. Foi preciso que se tratasse de uma greve que atinge tão profundamente um direito fundamental da população, como é o direito à saúde, uma greve em que se joga com algo que atinge todos os Portugueses e que está a provocar situações dramáticas nos hospitais, nos postos da Caixa, em doentes que têm terapêutica c que nau está a ser renovada, para o CDS vir apoiar essa greve.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado

Rui Pena.

O Sr Rui Pena (CDS): - Queria esclarecer a Sr.ª Deputada de que eu me limitei a protestar contra a conhecidíssima ambiguidade do PCP - de resto já conhecida, mas, mesmo por ser muito conhecida, não deixa de haver conveniência em repeti-la.

O Sr. Carlos Brito (PCP): - O CDS não é ambíguo!

O Sr. Lino Lima (PCP): - Mas o CDS apoda ou

não apoia a greve?

O Sr Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Zita Seabra.

A Sr.ª Zita Seabra (PCP): - Eu creio que posição ambígua foi agora a do Sr. Deputado Rui Pena, pois não esclareceu se apoia ou não esta greve. Esta greve está a ser conduzida por pessoas que toda a gente reconhece como próximas e afectas ao partido do Sr. Deputado. Aqui é que não teve, agora, pelo que me pareceu, a coragem de assumir as responsabilidades do que o seu partido ou pessoas próximas do seu partido estão a provocar neste. Pais ao jogarem com a vida e com a saúde dos cidadãos portugueses.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Rui Pena.

O Sr. Rui Pena (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O contra-esclarecimento da Sr.ª Deputada Zita Seabra implica que diga mais algumas verdades.

A Sr.ª Ercília Talhadas (PCP): - Verdades do CDS!

O Sr. Presidente: - Sr.ª Deputada Zita Seabra, vou conceder-lhe a palavra, visto que a Mesa não pode intervir, pois VV. Ex.ªs estão a usar do vosso tempo, mas peco-vos que poupem a saúde.

A Sr.ª Zita Seabra (PCP): - Certo, Sr. Presidente, eu serei muito breve.

A posição do CDS em relação às greves é nova neste momento: se é uma greve política não apoiam, se é uma greve que não é política, apoiam-na.

Bom, em relação a esta greve dos médicos, digo-lhe com toda a sinceridade o que tem dito o meu partido: há reivindicações na greve dos médicos que são justas, nomeadamente em relação aos salários dos serviços médico-sociais. Disse-o na minha intervenção. Mas, Sr. Deputado, isso podei justificar alguma vez uma greve que é, no fundo, contra o povo português? Quem são as vítimas desta greve, Sr. Leputado?

As vítimas desta greve são os utentes. Sr. Deputado, aqui quero tornar claro o seguinte: o PCP nunca poderia, fosse quem fosse que declarasse esta greve, estar de acordo com uma greve que lesa, desta maneira, os interesses da larga maioria dos portugueses. É muito clara a nossa posição: nós nunca poderíamos apoiar uma greve destas mesmo tendo algum a reivindicação justa, que neste caso nós consideramos apenas um pretexto para desestabilizar a situação política. Mas, mesmo que essa reivindicação fosse inteiramente justa nada justificava que se fizesse o que se está a fazer criando um clima de caos, de medo, de pânico nos hospitais, que só não é maior e mais grave porque, na verdade, os serviços de saúde funcionam muito mal neste país e, como hoje dizia alguém, em Trás-os-Montes, por exemplo, os médicos estão em greve há cem anos,, pois quase não existem. Mas, Sr. Deputado, nada justifica que se faça uma greve, com reivindicações justas, que lesa desta maneira o povo português e que joga desta maneira com um direito que é o direito à saúde. Era uma posição clara que eu desejaria ouvir da boca do Sr. Deputado em relação a esta greve que está a decorrer: se acha ou não que esta greve e justa, se acha ou não que, sejam quais forem as reivindicações dos médicos, é justo entrarem numa greve que lesa desta maneira os int eresses e a saúde do povo português.

Uma voz do PCP: -- Ê esse o humanismo do CDS!

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Os ricos vão aos consultórios!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Rui Pena.

O Sr. Rui Pena (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Depu-