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Não está em causa, como é evidente, nem a dignidade, nem o valor humano, nem a inteligência e muito menos a honorabilidade de V. Ex.ª Sr.ª Primeiro-Ministro, nem de nenhum dos restantes membros do Governo a que V. Ex.ª preside.

Na democracia pluralista por que sempre nos batemos e pela qual alguma coisa já sofremos é normal que coexistam diferentes opções políticas, mas há-de reconhecer-se, até pela experiência que já levamos, que nem todos realizam o objectivo último da acção política, que é a construção de uma sociedade mais justa, mais próspera, mais aberta e por isso mais feliz, a que o povo tem direito e sucessivamente lhe tem vindo, na prática, a ser negada.

Vozes do CDS:- Muito bem!

O Orador: - Sr.ª Primeiro-Ministro, permita-me que lhe diga, em nome do CDS e, estou certo disso, em nome da grande parte do povo português, que o seu Governo nasceu na ambiguidade, na meia verdade, e V. Ex.ª tem contribuído, pela sua actuação pública, não só para manter como até para agravar esta carga negativa.

Governo de apaziguamento, de conciliação e de desdramatização deveria ser este, na promessa do Sr. Presidente da República e na perspectiva das eleições que se vão realizar, e como Governo de agravamento e confrontamento ele apareceu, desde o princípio, contribuindo para um claro aumento do dramatismo que se respira na sociedade portuguesa.

O Sr. Carvalho Cardoso (CDS): - Muito bem!

simpatia do Partido Socialista, aqui expressa pelo Dr. Salgado Zenha...

Risos do PS e PCP.

..., mas também a clara condenação e distanciamento dos partidos da Aliança Democrática.

Vozes do PCP: - Ah! ...

O Orador: - Será isto imparcialidade e apaziguamento?

Merecerá, por este facto, V.Ex.ª o «beneficio da dúvida»?

Mas há mais e pior. Sabe V. Ex.ª que a Constituição estabelece, em termos claros, a separação entre a Igreja e o Estado e que esta preocupação vai ao ponto de impedir os partidos políticos de «usar denominação que contenha pressões directamente relacionadas com quaisquer religiões ou igrejas». Mas ainda que assim o não fosse, V. Ex.ª, pela força das suas convicções e pelo esclarecimento do seu espírito, tinha a mais estrita obrigação de desmentir de forma imediata, veemente e precisa toda a escandalosa vinculação que as forças e a imprensa de esquerda pretenderam construir da igreja católica ao seu Governo, baseada num encontro seu, que só a título particular se justifica, com um alto representante da hierarquia antes ainda de ser tornada pública a sua designação. E V. Ex.ª não o fez até hoje.

Como até hoje também não desmentiu que a introdução de algumas personalidades no seu Governo viesse ainda a tornar mais estreita tal vinculação, que, com nós, V. Ex.ª sab e não poder de forma alguma existir. É certo que V. Ex.ª pode argumentar que aguardou um desmentido da hierarquia católica, mas tal argumento não colhe, pois qualquer posição que aquela viesse a tomar sobre o assunto imediatamente seria considerada como posição favorável às forças contrárias à maioria de esquerda.

Objectivamente, Sr.ª Primeiro-Ministro, somos obrigados a considerar que V. Ex.ª, ofendendo o espírito da Constituição, usou abusivamente do prestígio e da autoridade moral da hierarquia católica para dar cobertura, que sabe não ser legítima e ser mesmo contrária à autonomia do poder temporal, que a Igreja ensina, aos seus actuais e futuros actos políticos.

Protestos do PS, do PCP e dos Deputados independentes sociais-democratas.

Merecerá V. Ex.ª, por este facto, o «benefício da dúvida»?

O Sr. Francisco Vidal (PS): - Não são só vocês que são católicos!

O Orador: - V. Ex.ª sabe que a ideologia que professamos e o combate político que temos travado visam libertar a sociedade portuguesa do veneno marxista que nela foi ilegitimamente instilado contra a vontade, o sentir e a tradição do povo.

O Sr. Carlos Lage (PS): - É baixo!

O Orador: - Sabendo isto, V. Ex.ª não se coibiu de afirmar, em entrevista concedida aos meios de informação, que «quem em Portugal arvorava o estandarte do antimarxismo ignorava e recusava os ensinamentos do Concílio Vaticano II».

O Sr. Carlos Carvalhas (PCP): - A intolerância...

O Orador: - A que título e com que autoridade pode V. Ex.ª proferir tais afirmações?

O Sr. Carlos Robalo (CDS): - Muito bem!