secretário-geral de então, Bento Gonçalves, de quem fui amigo e a cuja memória me sinto obrigado a prestar homenagem, porque foi um grande combatente da luta antifascista e não podemos esquecer que morreu no Tarrafal, e, só por isso, lhe deveríamos a nossa justa homenagem. Contudo, Bento Gonçalves considerou que o 18 de Janeiro tinha sido um movimento irrealista, tinha sido aquilo a que ele chamou uma "anarqueirada", querendo, naturalmente, significar com isso que não estava de acordo com a orientação seguida e que negava globalmente a validade do próprio 18 de Janeiro.

Não partilhamos dessa opinião. porque entendemos que para além do eventual irrealismo, para além da eventual falta de condições para o seu desenvolvimento em condições vitoriosas, tratava-se, naquela altura, de marcar um protesto contra a ofensiva generalizada do- poder político então vigente da ditadura de Salazar contra as liberdades dos sindicatos e dos trabalhadores. Nessa medida, entendemos que o movimento se justificava sempre, independentemente dos seus resultados, como uma maneira da classe trabalhadora manifestar a sua repulsa e a sua negação ao projecto que procurava limitar as suas liberdades pelo, que não nos inserimos nossa perspectiva, e consideramos que o 18 de Janeiro foi um movimento muito importante da história do movimento sindical português e da história das lutas dos trabalhadores portugueses contra a ditadura, e, nessa medida, reclamamos a sua herança como uma das lutas populares e, sindicais mais válidas contra o antigo regime.

não apolítico, mas, que tem de ser, necessariamente, não partidário, porque para nós um movimento sindical independente so pode existir em democracia política. Essa prova

foi feita ao longo dos últimos cinquenta anos. Entendemos, pois, que o movimento sindical tem de ser uma componente importante da democracia política, que, o movimento sindical está um pouco - no aspecto da sua existência em democracia política ou da sua viabilidade, ou inviabilidade, das condições de existência ou não existência da democracia política - como o peixe poder viver sem água ou os seres vivos poder viver sem oxigénio.

Para, nós, a, democracia política é a condição essencial e primária, ponto de partida para o desenvolvimento, ao movimento sindical independente, é aquele espaço de liberdade, indispensável, para o desenvolvimento de uma perspectiva de sindicalismo verdadeiramente autónomo e, vocacionado para a defesa dos autênticos interesses dos trabalhadores.

Reafirmamos aqui essa vocação e fazemos votos para que, cada vez menos, os partidos políticos, naturalmente que não excluo o próprio partido a que. pertenço, o Partido Socialista, porque entendo que essa intervenção no movimento sindical não deve, ser feita por nenhum dos partidos, nem pelo meu, que repetidamente se tem reclamado da não instrumentalização do movimento sindical pelos partidos políticos, e tem sido e vai continuar a ser coerente nessa sua linha de actuação...

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, terminou o seu tempo de intervenção e, peço o favor de abreviar.

O Orador: - Vou terminar imediatamente, Sr. Presidente.

Nunca seguimos a linha lógica que, nos propomos seguir, porque as coisas surgem ligadas umas às outras, mas não desejaria terminar sem chamar a atenção para o movimento sindical democrático, que neste momento se desenvolve no nosso país.

Do nosso ponto de vista - ponto de vista dos socialistas que apoiam essa perspectiva sindical democrática -, queria salientar que esperamos e nos bateremos dentro dessa central sindical, que começa a afirmar-se e a ser uma realidade autêntica no horizonte sindical português, para que ela seja fiel aos