portanto a questão totalmente em aberto e os prejuízos por indemnizar, já lá vão três anos. Relativamente a 1978 estão avaliados e pagos os prejuízos (salvo quanto ao arroz) et em 1979 estão em vias de o serem.

A questão do arroz está longe de encontrar uma plataforma de entendimento. Não está provado que os arrozais resistam ilesos á rega com água altamente poluída, nem é tranquilizador para os agricultores o argumento de que as condições do Baixo Vouga não são favoráveis para a cultura do arroz - o que é exacto, comparando com os arrozais do Tejo, do Sado ou do Sorraia, ou mesmo do Mondego, mas que não convence os agricultores de que a poluição das águas as não torna ainda mais desfavoráveis. O que é certo é que, nas cheias, dês vêem as suas praias de arroz inundadas por detritos da Celulose levantados nos charcos onde se depositam no Verão e que, em anos secos, se vêem privados de uma parte importante do caudal do rio, absorvido pela fábrica, ficando o restante alta arragens de terra para impedir o avanço das marés, preservando assim o abastecimento de água doce à fábrica, barragens que têm de ser destruídas no Outono para dar escoamento ao caudal do rio. Essas barragens - em que a empresa tem gasto dezenas de milhares de contos - têm sido erigidas alguns quilómetros a jusante da fábrica, abaixo da povoação de Vilarinho, no Rio Novo do Príncipe, já próximo da embocadura do Vouga, bem como nos braços do rio velho, a norte. Essa solução beneficiava também os agricultores, que viam igualmente defendidas as suas praias de arroz da invasão de águas salgadas. Todavia, a solução tinha a desvantagem de fazer concentrar a montante da barragem os esgotos da fábrica, que actualmente são descarregados no rio junto à ponte do Outeiro, ao pé da povoação de Sarrazola, não muito distante da fábrica, transportados por uma vala a céu aberto.

Por isso, os agricultores defendiam a condução dos esgotos por conduta, desde a fábrica até a um ponto a poe nte da barragem, uns quilómetros abaixo do locai actual, depois de tratados nesse local.

Recentemente, porém, os agricultores foram surpreendidos pela notícia de que a Celulose pretendia fazer um dique permante mesmo junto às instalações fabris, logo abaixo do sitio de captação de água, a montante da ponte ferroviária sobre o Vouga, local onde aliás já tinha sido construído há bastantes anos A discordância dos agricultores neste campo é frontal. Argumentam que tal barragem contribuirá para a inundação dos campos de Angeja, a montante, e que, sobretudo, deixaria desprotegido todo o troço do rio para poente, quer em relação à água salgada quer em relação aos esgotos da fábrica. Por isso, propõem que a barragem fixa seja constituída próximo do local onde vêm sendo feitas as barragens de tenra e seja munida de comportas e de uma ponte de passagem para a margem norte onde se situam os arrozais.

É óbvio que a Portucel e os agricultores têm aqui um interesse comum: defender a fábrica e os campos das águas salgadas. Mal seria que se fosse para uma solução que não aproveitasse para satisfazer ao mesmo tempo ambas as partes. Mas isto prova também que a questão da barragem contra as marés não é um assunto que diga respeito apenas à Portucel.

É uma questão que diz respeito ao Estado como tal, designadamente aos departamentos da agricultura e do ambiente. A solução preconizada pelos agricultores parece justa, do ponto em que aumenta a rendibilização de um investimento social necessário - a construção da barragem -, além de propiciar a melhor solução para a questão da poluição das águas, mediante a drenagem do esgoto, após tratamento primário, desde a fábrica até um local a jusante da barragem.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: A irregularidade do regime actual do- Vouga -com cheias no Inverno e caudais reduzidos no Verão- e o aumento do impacte das marés no Baixo Vouga lagunar complicam todas as soluções para o problema da poluição aquática da Celulose de Cacia e exigem soluções mais gerais, que incidam sobre a regularização ao regime do rio e a defesa dos campos da invasão das águas salgadas, a qual, juntamente com a poluição, ameaça transformar em sapais estéreis vastas zonas altamente férteis.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, dispõe apenas de mais um minuto.