O Orador: - ..., os custos do estilo lírico do PS e, ainda por cima, temos de conseguir mais algumas mais-valias para o futuro.

O Sr. Carlos Lage (PS): - Coitadinho!

Uma voz do PCP: - Você anda atrás de uma chucha!

O Orador: -Pelo nosso lado, somos partidários de uma revolução realista. Para já teremos de fazer as contas e pagar os gastos, pagar os consumos supérfluos do socialismo e do comunismo, luxos nas sociedades ocidentais actuais.

Por isso, este Orçamento é ainda um Orçamento que se situa entre o passado recente que herdámos e o futuro próximo que propomos. Trata-se para já de aguentar, estancar a sangria, manter a respiração, para preparar o relançamento, Por isso, estou de acordo com o Sr. Deputado Sousa Tavares que diz que este é um Orçamento de sacrifício.

O Sr. Gualter Basílio (PS): -O Salazar dizia o mesmo!

O Orador: - Não é, porém, uma política ad hoc. Nós temos um Plano.

Vozes do PS: -Tem, têm!

Risos do PS e do PCP.

O Orador: - Sr. Presidente, estão-me a roubar o tempo de que disponho. Espero que no final este tempo me seja descontado.

O Sr. Carlos Brito (PCP): - Queixinhas!

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, volto a pedir-lhes que deixem o orador fazer a sua intervenção.

Sr. Deputado Lucas Pires, para o tranquilizar, sempre que V. Ex.ª, assim como qualquer outro Sr. Deputado, seja interrompido, é imediatamente descontado esse tempo pela Mesa.

Tenha a bondade de continuar, Sr. Deputado Lucas Pires.

O Orador: - Nós temos um plano. O PCP também tinha um plano, nós reconhecemos isso.

Vozes do PS: - É igual!

O Orador: - Foi um plano que ficou a meio e que ainda não perdeu a esperança de avançar. Ê uma peça escrita há mais de um século por Karl Marx, cujo encenador foi Lenine, cujo intérprete principal é Brejnev e que tem uma série de figurantes que compõem o espectáculo através do mundo inteiro.

Risos do PSD, do CDS e do PPM.

Simplesmente, até por a peça já estar muito vista, nau teve entre nós muitos espectadores, apesar das insistências com que chama a atenção do público.

A peça do PS tinha de tudo. Tinha todos os ingredientes. Já uma vez disse que era uma sopa de pedra, pois tinha todos os ingredientes, mas não sabia a receita. Os actores e os actos que se sucederam foram muito. Os actores entravam e saíam, dirigidos por uma batuta, que ás vezes lhes parecia alheia e ora vinha mais da esquerda, ora vinha mais de cima. Mas, como em algumas revistas, não se chegou à apoteose final.

A certa altura verá ficou-se, porém, que, para além da movimentação dos actores, nenhuma peça existia. Era apenas um cenário para entreter os espectadores no intervalo.

Aplausos do PSD, do CDS e do PPM.

Talvez por isso tenham sido os históricos do PS que vieram interpretar neste debate o Partido Socialista. compreensivelmente, a história é o melhor que o PS ainda tem para oferecer.

Risos do PSD, do CDS e do PPM.

Verificou-se afinal que os dirigentes do PS -de quem toda a gente dizia: «Coitados, eles não são bons no Governo, mas são muito bons na oposição» - são ainda piores na oposição do que no Governo.

Risos do PSD, do CDS e do PPM.

Dos dirigentes da Aliança Democrática dizia-se o contrário: que eram .pessoas um pouco agressivas e só no Governo se poderia saber como é que seria. Verifica-se afinal que no Governo são ainda melhores do que na oposição.

Aplausos do PSD, do CDS e do PPM.

Por outro lado, o PS pareceu aqui hoje quase um partido municipal. A única coisa de que falou foi das finanças locais. Esse o seu motivo principal. Penso que o PS tem proporções para a assembleia municipal. Penso também é que tem cada vez menos proporções para a Assembleia da República e, mais uma vez, vai votar ao lado do PCP. Ele, que no Governo parecia ser o progressismo do capitalismo, continua na oposição a fazer o simples papel de decadência do socialismo, chegado à fase da tremura na linguagem, na acção e no pensamento.

Pelo nosso lado, como sabem, depois deste triste espectáculo...