em conta os efeitos dramáticos que ia ter a nível da economia, do crescimento, do investimento, do poder de compra e do emprego. Nós, na realidade, dissemos isso aqui sempre. E quem quiser fazer a história basta rever as discussões dos planos e dos orçamentos ao longo destes três anos para ver como nessa altura apontámos que as medidas acolhidas pelos sucessivos governos e respostas pelo FMI eram desproporcionadas em relação ao objectivo pretendido que era a diminuição do deficit de pagamentos com o exterior. E chegámos a esta situação: é que um país com uma economia de crescimento mais do que lento, com um desemprego bastante grande, com uma laxa de inflação colocada entre os 25 % e os 30 %, dá-se ao luxo de ter um volume significativo de saldo positivo na balança de transacções correntes. O que é que isto prova? Prova que as medidas do FMI eram na realidade excessivas e que foram apenas um pretexto, não tanto para realizar o objectivo que era a diminuição do deficit dos pagamentos com o exterior mas sim para retomar aqui, em Portugal, a acumulação capitalista através da diminuição do poder de compra dos trabalhadores, através do aumento do desemprego, através da diminuição do consumo privado. E que agora o Governo venha anunciar que vai fazer umas «flores» sobre a política que ele apoiou, que os partidos que o constituem apoiaram ao longo destes três anos, não pode deixar de considerar-se como o cúmulo da hipocrisia.

Aplausos do PCP.

Vozes do PSD: - Não apoiado!

Risos da maioria parlamentar.

...ª anunciar uma retoma do investimento, são «flores» porventura fáceis de dar quando ao longo de três anos se estimulou, se apoiou, se dirigiu e se executou essa mesma política sobre cujos resultados catastróficos agora que choram lágrimas de crocodilo.

Aplausos do PCP.

O Sr. Bento Gonçalves (PSD): - Foi a maioria de esquerda que produziu esses resultados.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Salgado Zenha.

rtuguês como uma doença cancerosa que era preciso debelar imediatamente, sob pena, até, de se perder a independência nacional. Isto foram frases utilizadas em termos dramáticos em várias intervenções. Todos sabem que em consequência da política económica e financeira seguida pelos governos socialistas o deficit externo baixou de modo considerável. Salvo erro, em 1977 o deficit externo foi de 1,4 biliões de dólares; no ano passado será com certeza inferior a 300 milhões de dólares; e, no entanto, o Sr. Ministro das Finanças aparece-nos agora dizendo: bem, o deficit externo é um facto secundário, pouco relevante e portanto a redução do deficit externo que foi conseguida não tem validade - se é que eu bem entendi.

A primeira pergunta que faço é a seguinte: quando é que nós devemos acreditar no PSD, é quando ele está na oposição ou quando está no Governo?

Vozes do PSD: - Sempre!

O Orador: - E permita-me também que eu lhe faça uma crítica. O Sr. Ministro das Finanças invocou factos e utilizou alguns argumentos que não são do domínio público. Invocou, por exemplo, uma letra ou uma carta de intenções ou um certo projecto que não foi ultimado, quando cem certeza o seu conhecimento deve-o ao facto de exercer funções no Banco Emissor e ao facto até de ter pertencido à delegação portuguesa que negociou com o Fundo Monetário Internacional e não me parece que seja de boa ética utilizar argumentos e factos que os Deputados não podem controlar, visto que não desempenharam as mesmas funções que V. Ex.ª

O Sr. Bento Gonçalves (PSD): - Então fica em segredo!

O Orador - Não, pode utilizar os factos que são do domínio público. Não me parece que possa abusar do conhecimento que teve em consequência do exercício de determinadas funções.

Risos do PSD.

A crise do petróleo iniciou-se em fins de 1973. O aumento dos preços do petróleo é uma constante da vida económica. Praticamente todos os Governos depois do 25 de Abril, e até o Governo de Marcelo Caetano, tiveram de fazer frente a esse fenómeno. Quando o PS estava no Governo nós ouvimos várias críticas do PSD, como oposição. Por exemplo, o Sr. Deputado Sá Carneiro, que então liderava o PSD, afirmara que a crise do petróleo era um pretexto que 01 Governos PS utilizavam para esconder a sua incompetência, dando a entender que esse facto era irrelevante. No entanto, a crise do petróleo já existia