O Orador: - No que à comunicação social se refere, tem sido conduzido a práticas de hegemonização e contrôle condenáveis e à utilização de processos e até de homens do antigo regime que nenhum democrata sério pode avalizar, ainda que pertença à actual maioria.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Entendamo-nos, porém.

Numa interpelação como aquela que fazemos, os exageros são contraproducentes. Só importa a linguagem dos factos e a verdade sem demagogias. Foi a que empregámos. Para nós, mais do que tudo, trata-se de tocar uma campainha de alarme. Trata-se de dizer: basta! As provas carreadas, com objectividade e rigor, pelos Srs. Deputados José Nisa, José Manuel Nunes e António Reis são irrefutáveis e impressionantes. 0 silêncio com que ontem foram ouvidos por esta Câmara serve, aliás, para demonstrar que, para além das questões partidárias, se tocou aqui um problema de fundo, vital, com necessárias e evidentes repercussões na consolidação da democracia portuguesa. Todos assim o entenderam, creio.

A Sr.ª Adelaide Paiva (PSD): - Mal!

O Orador: - E para muitos - mesmo da maioria -, as provas carreadas, quero acreditar, constituíram verdadeiras revelações, bem desagradáveis

por sinal.

Pedem-nos que encaremos de frente os problemas fundamentais que põe, à vivência, de uma democracia moderna, a informação, no seu conjunto, como verdadeiro contrapoder num Estado moderno. De acordo. 0 PS, principal responsável de todas as leis vigentes no domínio da informação, não foge, obviamente, a esse debate, a que aludiu o Sr. Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro na sua intervenção do ontem. Não ignoramos sequer o peso e os inconvenientes da imprensa estatizada. Mas que o debate sobre a filosofia, do projecto constitucional em matéria de comunicação social - projecto que pode e deve ser conseguido, e melhorado - nos não desvie da contemplação da realidade imediata e dos abusos muito concretos e mesquinhos que o Governo vem consentido na hegemonização e controle dos meios de comunicação do sector público.

Aplausos do PS.

Esse é o objecto desta interpelação. Por isso nos

não deixámos desviar dele. E no fim desta interpelação

não se estranhará que sejamos obrigados a

concluir que o Governo não respondeu - porque

não podia responder a não ser reconhecendo as suas

responsabilidades, e, não o quis fazer - às terríveis

e flagrantes acusações aqui trazidas serena e objectivamente,

pelo Grupo Parlamentar do PS. Acusações

que constituem um escândalo público que importava

e importa denunciar. Para bem e no interesses de

todos os portugueses, sem excepção, e não só dos

socialistas. Porque todos por igual temos direito a

uma informação verdadeira.

Só agora é que sabe!

É certo que o Governo e alguns parlamentares AD pretenderam desviar as atenções da Assembleia atacando os antigos Governos, e em particular aqueles a que presidi.

Uma voz do PSD: - Arrependimento serôdio?!

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Amândio de Azevedo (PSD): - Essa habilidade não engana ninguém.

O Orador:- Depois, porque a actual maioria, no tempo em que foi oposição, nunca fez qualquer interpelação, nem sequer protestos parlamentares, a Governos anteriores, em matéria de comunicação social.

Aplausos do PS.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Derrubou-o!

O Orador: - E depois de o ter derrubado os senhores associaram-se connosco no Governo. Portanto o Sr. Deputado não tem nenhuma razão para interromper.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - E deixámo-lo quando reconhecemos a vossa má fé!

Aplausos do PS.

Depois como aqui ontem foi claramente demonstrado, no passado - e no que aos Governos socialistas se refere - não houve nunca saneamentos políticos de profissionais da informação.

Vozes do PSD: - Ah!

O Orador: - Não houve medidas de intimidação contra jornalistas. Não houve casos de censura ou condicionamentos para autocensura. Não houve protestos generalizados dos conselhos de informação.

O Sr. Bento Gonçalves (PSD): - Tinham a maioria!

Aplausos do PS.

Não quer isto dizer - note-se - que os socialistas estejam isentos de erros quanto à comunicação social,