e a fazer uma constatação de facto, que depois de ter ouvido as declarações políticas do Partido Socialista e do Partido Comunista -que ouvi, é um facto - radicou-se ainda mais no meu espírito a convicção que tenho vindo a manifestar de há uns meses a esta parte de que há, realmente, uma verdadeira sintonia entre o discurso político do Partido Socialista e o discurso político do Partido Comunista.

O Sr. Pedro Roseta (PSD): - Muito bem!

O Orador: - E não tenho qualquer medo de o afirmar, designadamente perante as abjurações do Sr. Deputado Salgado Zenha, de que se trata de linguagem fascizante ou de linguagem utilizada pela PIDE, porquanto eu, ao dizer isto, não estou a fazer qualquer acusatório, estou única e exclusivamente - e naturalmente com a lamentação que daí decorre-- a fazer uma verificação de facto.

Exemplifico: com efeito, não se trata apenas de criticar o Governo, não se trata apenas de exercer uma oposição, trata-se, mesmo no exercício dessa oposição, de o fazer de uma forma puramente negativa, sem qualquer aspecto construtivo. Nisso alinha uma oposição e outra oposição, ambos falam da ruptura antidemocrática, da ruptura institucional -trata-se de uma linguagem perfeitamente comum-, ambos falam das tendências fascizantes do Governo. Trata-se, mais uma vez, de uma tendência puramente comum no discurso das duas aposições. Ambos falam da demagogia e da propaganda do Governo.

Vozes do PCP: - É verdade!

O Orador: - Trata-se, mais uma vez, de um discurso político comum. Ambas falam de conflitos entre órgãos de Soberania; ambas falam de obstrução por parte da maioria da Aliança Democrática à acção das oposições; ambas falam, nas suas injúrias, contra o candidato da Alcança Democrática, general Soares Carneiro.

Mas não queria, para além de constatar esse facto, deixar de perguntar ao Sr. Deputado Carlos Lage qual é efectivamente -depois de todos os gritos de que na próxima sessão legislativa o PS voltará novamente ao poder-, qual é a alternativa que o Partido Socialista nos vai oferecer, isto é, se realmente poderá constituir um Governo majoritário apoiado numa maioria estável e coerente, ou se vamos voltar, como disse o Sr. Deputado Ferreira do Amaral, aos "casamentos" de ocasião, se vamos voltar a uma política de altos e baixos, a uma política de alianças temporárias, ou então se vamos procurar a formação de Governos na sede presidencial, e, essa sim, constituído um gra ve perigo para a democracia portuguesa.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Carlos Lage tem mais um pedido de escurecimento a responder. Deseja fazê-lo já, no que se refere à intervenção do Sr. Deputado Rui Pena, ou pretende responder aos dois em conjunto?

ao interpelante, eu utilizava já os três minutos a que tenho direito para responder ao Sr. Deputado Rui Pena.

O Sr. Presidente: - Tem V. Ex.ª a palavra por três minutos, Sr. Deputado.

O Sr. Carlos Lage (PS): - O Sr. Deputado Rui Pena fala em discursos em sintonia e invoca palavras que são usadas pelos diferentes partidos. Por exemplo, fala da expressão "ruptura democrática" ou "ruptura institucional". Pois então que dizer da linguagem do Sr. Deputado Carlos Macedo? O Sr. Deputado Carlos Macedo falou variadíssimas vezes nos seus discursos da necessidade da "ruptura democrática" e da "ruptura institucional". Será que o Sr. Deputado Carlos Macedo tem um discurso, dada a sua fraseologia, igual ao do Partido Comunista?

Pelo raciocínio do Sr. Deputado Rui Pena, não há dúvida nenhuma de que quem usa as mesmas palavras tem o mesmo pensamento, quem usa a mesma linguagem tem o mesmo conteúdo nas suas ideias. Parece que haveria necessidade, em Portugal, de vários léxicos - um léxico para o Sr. Deputado Rui Pena, um léxico para a AD, um para o PCP e outro para o Partido Socialista. Naturalmente que nós usamos a linguagem que achamos adequada para caracterizar osta para lhe dar, Sr. Deputado Rua Pena: essa pergunta exprime a sua preocupação pela vitória do Partido Socialista e da Frente Republicana Socialista. O Sr. Deputado está angustiado, mas eu não lhe vou tirar essa angústia.

Aplausos do PS.

O Sr. Rui Pena (CDS): - Eu sei que só tem essa resposta, Sr. Deputado.

Risos do PSD e do CDS.

O Sr. Salgado Zenha (PS): - Peço a palavra, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Para que efeito. Sr. Deputado?

O Sr. Carlos Lage (PS): - Sr. Presidente, como o interpelado tem o direito de responder a seguir

O Sr. Salgado Zenha (PS): - Para interpelar a Mesa, na medida em que o Sr. Deputado Rui Pena