justiça social, lutando contra o capitalismo selvagem, a especulação e a fraude fiscal, para referir alguns dos males que o Sr. Primeiro-Ministro explicitamente citou.

O nosso antagonismo de base, relativamente ao projecto conservador-liberal da AD, tem em alguns destes tópicos a sua razão de ser. A luta que travamos em favor da justiça social e da liberdade, ou seja do socialismo democrático, tem aqui o mesmo sentido que nos outros países europeus. As reformas de modernização, descentralização e regionalização da sociedade portuguesa que preconizamos decorrem da mesma filosofia. Somos, naturalmente, civilistas, e por isso entendemos que o poder político, emanação do sufrágio popular e única fonte de legitimidade democrática, não pode estar sujeito a tutelas que lhe sejam exteriores - a começar pelos grandes grupos económicos que a AD, com a sua política concreta, visa indiscutivelmente reconstituir.

Vozes do PSD e do CDS: - Não apoiado!

O Orador. - É neste quadro de referências que abordamos também a revisão constitucional, fiéis ao seu espírito de que não abjuramos, fiéis ainda ao 25 de Abril e ao que ele representou e representa como autêntico movimento, ele, sim, de libertação da sociedade civil.

Aplausos do PS, da ASDI e da UEDS.

Nos termos e limites consagrados no artigo 290.º, estamos abertos para encontrar os consensos possíveis em matéria de revisão constitucional, tendo em vista a consolidação do regime pluralista e uma maior transparência democrata das instituições.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Dispondo, à partida, o actual Governo de uma confortável maioria e estando seguro da investidura desta Assembleia que resultará da não aprovação das moções de rejeição apresentadas -, não se compreende bem por que razão insiste em sobrepor ao debate sobre o Programa do Governo a votação de uma moção de confiança.

Num governo de simples maioria relativa - como foi o caso do I Constitucional - um tal procedimento poderia ter sentido e um alcance político específico.

Mas não na situação actual. A menos que o voto da moção de confiança se destine a responsabilizar politicamente a própria maioria.

Vozes do PSD: - Não apoiado!

O Orador - Essa hipótese, que parece a única lógica, não passa de um novo afloramento da insegurança do Governo em relação à sua própria maioria de apodo.

Vozes do PSD: - Não apoiado!

O Orador: - Na situação crítica em que se encontra o País - com os preços a disparar por aí acima, todos os dias, o desemprego a crescer, principalmente o desemprego dos jovens, e as carências terríveis da população mais desfavorecida, em domínios vitais como a saúde, a habitação, o transporte, a própria alimentação, que começa a não abundar, em certas zonas, por efeito ainda das terríveis dificuldades que atravessa a nossa agricultura -, o País espera deste governo mais do que habilidade, política, nos arranjos e combinações de circunstância para conter e enquadrar a própria maioria, numa espécie de navegação à vista permanente, o País espera que este governo não adie por mais tempo a resolução dos grandes problemas de fundo que afectam vitalmente as massas populares, actuando de acordo, com os compromissos repetidamente assumidos nas sucessivas campanhas eleitorais.

O Sr. Amândio de Azevedo (PSD): - Muito bem!

O Orador - Disse o Sr. Primeiro-Ministro, com uma ponta de jactância, que não é, aliás, do seu hábito nem do seu temperamento, que o Governo não precisava de meter o socialismo na gaveta para fazer justiça social. Gostei de o ouvir.

Risos do PSD.

Lembrou-me um fogoso orador de mm célebre comício no Campo Pequeno - aos anos que isso vai! - ou aquele fundador do então PPD que disse peremptório ao Diário Popular que, se o seu partido fosse algum dia de direita, sairia do partido.

Sr. Amândio de Azevedo (PSD): - E não saía só!

Vozes do PSD: - Não se mudam, não!

O Orador: - Entretanto, a declaração de agora do Sr. Primeiro-Ministro, quanto ao socialismo, é de reter. Temos aí uma base de consenso possível: comecemos, modestamente, por não tirar o socialismo da Constituição.

Aplausos do PS e da UEDS.

Porque, Srs. Deputados, como projecto e como esperança - acredite o Sr. Primeiro-Ministro - o socia-