Por outro lado, as oposições tentaram esconder com algumas flores de retórica o seu imobilismo e o formalismo de que continuam possuídas. Arvoram-se mais uma vez em intérpretes únicos dos "textos sagrados". Deram quase às palavras um poder mágico, repetiram fórmulas como que em ritos encantatórios. Examinaram exaustivamente frases do Programa ou do discurso do Primeiro-Ministro, destacadas do seu contexto, a que deram interpretações subjectivas e fantasistas, que não esconderam a perturbação que lhes causou a linguagem nova que aqui trouxemos e a que não se querem habituar.

A título de exemplo refiro apenas a expressão "o Governo lutará pela libertação da sociedade civil", que, à luz dos princípios que enformam o programa eleitoral e a prática política da AD só pode ter, evidentemente, uma leitura, expressamente confirmada e desenvolvida no Programa do Governo: o Executivo apoiará todas as capacidades criadoras dos Portugueses em todos os domínios, desde o cultural ao social, passando pelo económico, pelo científico e tecnológico, sem esquecer a desejável conotação regional. Diminuirá, por isso, a excessiva intervenção do Estado que se vinha verificando nos vários domínios, e não apenas num, sendo retirados à classe burocrática os mecanismos com que ela tem sustentado o seu poder sobre a sociedade civil. Talvez esteja aqui - quem sabe - a explicação do alarme de alguns deputados. Ou então tratou-se apenas de uma manifestação do conhecido mecanismo de transferência psicológica: quem entende que a sociedade só pode evoluir e criar sob o comando do Estado, transfere as suas intenções dirigistas para os outros; quem pensa que o economicismo em que mergulha é universal, aplica frases alheias que se referem à sociedade em geral exclusivamente ao campo da economia.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: De novo foram patentes as profundas contradições entre os seis partidos que estão na oposição, mesmo no seio das coligações em que se agrupam.

Por um lado, o PCP, como não pode nem quer explicitar a sua alternativa de poder - que os Portugueses, aliás, apreciam em acção na Polónia e noutras paragens -, refugia-se num projecto em absoluto conservador, limitando-se a defender o estado de coisas que lhe permite conservar os restos do poder que ainda tem. Pouco lhe importa que para isso tenha de repetir ad nauseam os mesmos slogans...

Risos do PSD.

... que, com gritos que escondem a falta de convicção, venha arvorar-se em defensor das liberdades, como se os Portugueses não vissem o que vai pelo Mundo e pudessem esquecer o que foi a amostra do poder de terror que exerceu em 1975.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Que tenha de recorrer a uma linguagem velha de quarenta anos, a ponto de muitos nossos visitantes se declararem rejuvenescidos por ouvirem, aqui, aquilo que nos seus países há décadas desaparecera completamente. Não é, apenas, pois, pela ideologia, como entre outros pretende Henry-Lévy, que os partidos comunistas estão hoje, de facto, na extrema-direita, mas sim pela prática e pela linguagem ultraconservadora que produzem, e os vão transformando cada vez mais em bem verdadeiros fósseis pré-históricos da política do nosso tempo.

Aplausos do PSD, do CDS e do PPM.

...que já há milénios meditavam - sobre tal - problemática e censuravam vivamente a euforia legiferante, a hipertrofia do Estado e os perigos que, na realidade, representam para a liberdade.

Vozes do PSD do CDS e do PPM: - Muito bem!

Vozes do PSD: Muito bem!