mado como uma das vozes mais enfeitiçantes dos modernismos do nosso século XX.

O nosso voto de pesar pela morte de António de Sousa é também uma homenagem ao povo, que nas trovas deste poeta vê espelhados os transportes da sua mundividência lírica, primeiramente pelos trovadores e continuada pelos génios mais sensíveis da nossa poesia.

Como não há-de a nossa alma enlutar-se de cada vez que a morte quebra uma destas liras em que bate o coração de Portugal?

Aplausos do PSD, do CDS, do PPM, da ASDI, da UEDS e de alguns deputados do PS e do PCP.

O Sr. Presidente: - Continua a discussão.

Pausa.

Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Vilhena de Carvalho.

A Sr.ª Natália Correia (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Vão limitar-se a chorá-los ou a, evoca-los no dia ou aniversário da sua morte?

Será bom ter presente que um povo que deixasse de pensar deixaria de existir; um povo que deixasse de amar os seus poetas deixaria de sentir, regressando às origens, ao tempo em que tudo o que é humano estava por criar.

Mas onde estão os actos que isso impeçam?

A evocação de Camões feita nesta Câmara pelo Sr. Deputado Manuel Alegre, de forma e conteúdo extraordinariamente exemplares, não passou além dos arquivos do Diário da Assembleia da República.

Será que não merecia a difusão que é dada aos discursos dos Srs. Ministros, incluindo os de simples inauguração de feiras ou chafarizes?

O Sr. João Lima (PS): - Muito bem!

O Orador: - Será que ao menos os participantes no Congresso das Comunidades vão ter possibilidade de a ler?

O Sr. João Lima (PS): - Há tourada!

O Orador: - Na anterior legislatura, o deputado social-democrata independente António Joaquim Veríssimo evocou os cinquenta anos de vida literária do poeta Miguel Torga. Acto seguido, deliberou esta Câmara levar a efeito uma sessão especial sobre a efeméride, mas tal deliberação, como se tem visto, não passou de uma piedosa intenção...

Alegra-nos ao menos termos podido ler no pórtico do programa da recepção que há dias teve lugar nesta Câmara ao Presidente da República do Brasil duas belas poesias de expressão portuguesa.

O que acabo de dizer parecerá descabido numa declaração de voto de pesar a propósito da morte do poeta António de Sousa. Mas não resistimos a ilustrar com factos concretos o pouco carinho que continuamos a votar aos nossos poetas.

António de Sousa não foge à regra.

Em seis livrarias que ontem propositadamente visitei não havia uma única das suas obras.

A Sr.ª Natália Correia (PSD): - Exacto!

O Orador: - Os livros escolares também o não distinguem. A última antologia da poesia portuguesa, altamente subsidiada pela Secretaria de Estado da Cultura, também o não inclui. E, não obstante, António de Sousa soube dar a muitas coisas transitórias a densidade do eterno.

Num minuto de evocação não cabe, sequer, a enumeração dos títulos dos seus livros.

Tendo atravessado várias épocas, gostos literários, quando não escolas, a sua voz independentiza-se de umas e outras. E, assim, não pode dizer-se verdadeiramente saudosista quando escreve Cruzeiro de Opalas ou o Encantado, nem presencista, com Caminhos ou Ilhas Desertas, ou identificado com movimentos literários posteriores, com o Náufrago Perfeito. Sortilégio ou Livro de Bordo.

Ele é verdadeiramente original na expressão do seu sentimento, da sua fantasia, e no fino recorte da sua ironia, enriquecendo o património da poesia portuguesa.

António de Sousa morreu, mas o diálogo com a sua obra terá de continuar.

Com ele diremos para concluir: "O mundo não desanima, de ser o céu, algum dia."

Aplausos da ASDI, do PS, da UEDS e de alguns deputados do PSD, do CDS, do PCP e do PPM.

O Sr. Presidente: - Igualmente para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Raul Rego.

O Sr. Raul Rego (PS): - Sr. Presidente, Srs Deputados: Para evocar um poeta como António de Sousa nada melhor do que a voz da grande poetisa Natália Correia.

Aplausos do PS, do PSD, do CDS, do PPM, da ASDI e da UEDS.

Ela, na sua verticalidade de cidadã, lembrou o poeta e também o cidadão vertical que foi António de Sousa.

Aplausos do PSD e do Sr. Deputado Carlos Brito (PCP).