Direcção-Geral dos Desportos e antes da própria existência da Assembleia da República. Portanto, não se venha argumentar num debate em que se está a criticar determinado tipo de medidas tomadas por este governo com medidas tomadas anteriormente quando ainda não havia Constituição da República.

Vozes do PCP: - Muito bem!

colocadas.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Portugal da Silveira.

O Sr. Portugal da Silveira (PPM): - Sr. Presidente. Srs. Deputados, Sr. Membro do Governo: O Decreto-Lei n.º 339/80, de 30 de Agosto, sobre cuja ratificação esta Câmara vai pronunciar-se, incide sobre um sector da vida nacional que, talvez por fazer parte do nosso quotidiano, não chegue a ser entendido na sua dimensão total.

Mas a verdade é que o fenómeno desportivo está inserido na nossa vida social de tal forma que estão muito longe de ser as centenas de milhares de espectadores que semanalmente enchem estádios e os pavilhões, os únicos interessados. Repare-se nos ouvintes de transístores que nós vemos todas as tardes de domingo, no campo e na praia, circulando pelas ruas de aparelho encostado ao ouvido. É a TV a prender milhões no fim das tardes de sábado ou de domingo. São os leitores da A Bola, que fazem dela o jornal mais lido em todo o país.

Haverá e há muitos e muitos portugueses que não serão capazes de alinhar ao menos metade dos nomes dos actuais membros do Governo, mas o número daqueles que não hesitarão em recitar de cor e rapidamente as equipas completas do Benfica, do Sporting ou do Porto é incomparavelmente maior, e mesmo ainda se se tratar do Boavista, do Vitória de Setúbal ou do Guimarães.

Os nomes desses homens fazem parte do dia-a-dia de multidões e povoam-lhes os sonhos de toda a semana.

Mas como foi criada, como vai, como se regula a estrutura que permite a montagem do espectáculo?

O que há nos bastidores? No palco, conhecemos os artistas. Mas quem são os carpinteiros de cena? Os contra-regras? Os produtores?

É que a estrutura que construiu os Estádios das Antas, da Luz ou de Alvalade, ou que por todo o país fez nascer os pequenos clubes da província; que criou regras, estabeleceu calendários e horários, angariou equipamentos, cobrou quotas, organizou ficheiros, estabeleceu prémios e penas; que assume, enfim, a responsabilidade de no dia certo, na hora aprazada, os milhões de portugueses terem o espectáculo que escolheram; essa estrutura, em permanente evolução e aperfeiçoamento, que lentamente começou a ser criada há pouco menos de cem anos, é obra, afinal, de homens que, na sua grande maioria, encontram na própria dedicação a recompensa do seu esforço.

O complexo mecanismo dos clubes, das associações e das federações foi sendo construído, desde o tempo das balizas às costas, com um incomparável amor desinteressado, por milhares de homens, na sua esmagadora maioria modestos e ignorados, que ofereceram e oferecem o seu esforço, a sua inteligência, o seu repouso, a sua bolsa, para a concretização de uma obra que quiseram que fosse sua porque era sua.

Esses homens vieram de iodos os estratos sociais, profissionais, religiosos e políticos, e criaram, na modalidade ou no clube que escolheram, uma plataforma de entendimento comum; resistiram a todas as formas de pressão ou às tentativas de manipulação que se multiplicaram, quer durante o meio século de ditadura, quer durante o passado próximo, em que a sociedade portuguesa esteve ameaçada de subversão total. Eles souberam, contra ventos e correntes, com determinação e paciência, escolher o seu destino, conquistando no espaço que os rodeava aquilo que foi, afinal, talvez o último reduto da liberdade e da democracia e, antecipando-se largamente à actual Constituição, ergueram autênticas organizações populares de base.

Talvez que nos meandros dessa estrutura colossal possam encontrar-se afloramentos de jogo menos limpo, mas, no essencial, ela ergue-se, livre e pura, e por isso os deputados monárquicos desta Câmara manifestam a sua admiração e rendem as suas homenagens aos seus obreiros.

Mas esta estrutura está hoje ameaçada de subversão por paixões incontroladas, quiçá exploradas por