Estado, pois o Governo corta-lhes as pernas enquanto aumenta os vencimentos dos seus gestores para compensar as complicações que eles tiveram ao reduzir as tripulações e ao aumentar os serviços a bordo.

Mas o Secretário de Estado não se preocupa, pois os empreendedores que acorrerão à chamada têm patriotismo que chegue e com a vantagem de alinharem pelos critérios económicos governamentais: tratam de ?e arranjar o melhor possível.

Assim, eles vendem navios a si próprios, põem-nos sob bandeiras de conveniência, afretam-nos a si próprios, sobrefacturam a si próprios, colocam no estrangeiro milhares de contos para si próprios - 1200 dólares/dia/navio para um pequeno barco de 1500 toneladas, o que não será para os barcões?

Eles não investem no sector, que não dá garantias a curto prazo e tem estado em crise. Alguns mantêm um ou outro navio para garantirem o título de armador (e quando não o têm compram uma qualquer velharia) e poderem assim concorrer com os armadores nacionalizados ao tráfego de abastecimento - também ele anárquico -, ao abrigo do Decreto-Lei n.º 75-U/77, utilizando depois navios afretados ao estrangeiro, de si próprios ou de outros

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Mário Tome, informo-o de que esgotou o tempo de que dispunha. Queira terminar, por favor.

O Orador: - Termino já, Sr. Presidente.

Não são armadores, nada têm com os interesses da marinha mercante. São apenas especuladores, falsificadores, traficantes. À medida do seu governo!

E, na maior parte dos casos, em vez de afretarem navios a casco nu, para garantirem o emprego aos trabalhadores portugueses, afretam-nos com tripulação na origem, pouco exigente em condições de segurança, condições de trabalho, etc.

Este tipo reles de aldrabões que, quando o negócio não dá o suficiente, vão então investir noutras paragens mais rentáveis, concorrem com o Governo para a não criação de postos de trabalho e a depredação do sector.

O Governo proclama a produtividade como panaceia para todos os problemas e diz que na marinha mercante a vai alcançar com navios tecnologicamente evoluídos e gestão eficiente e moderna, enquanto incentiva e pressiona com a falta de apoio financeiro os armadores nacionalizados a tripularem mais navios pelo mesmo preço, diminuindo tripulações, dando mais trabalho e fraca comida e comprando navios com 11 e 13 anos.

Exemplo claro do que significa a produtividade para o Governo e para todos os capitalistas que se prezam: mais trabalho para 05 trabalhadores, menos salário real e menos emprego.

Mas seríamos injustos se disséssemos que o Governo permite e apoia todo este tipo de acções criminosas e fraudulentas, embora em gíria capitalista se lhes chame empreendimento, dinâmica empresarial, iniciativa, audácia, etc., só para corresponder ao entusiasmo dos novos mareantes que querem juntar-se à patriótica congregação da navegação portuguesa, descobridores de novos impérios, menos escaldantes mas nem por isso menos apetecíveis. Não. A liquidação da nossa frota tem. a ver também, e principalmente, com a necessidade - tão compreensível - de Balsemão e os outros todos serem gentis e agradáveis com os amigos da CEE que, como se sabe, estão aflitos com a crise, com o tamanho das suas frotas, com a concorrência dos gregos, russos, as exigências dos países do chamado Terceiro Mundo, etc. Não faria sentido sermos logo nós, Portugueses, a ir-lhes dificultar a vida. Sabemos ser leais amigos dos nossos amigos e temos dado prova disso.

Aliás os nossos amigos com as frotas à pendera virão dar uma ajuda e fretar-nos-ão todos os navios de que precisarmos e, se quisermos, tomam conta também do nosso comércio externo, para não termos ralações.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Constatamos facilmente serem os interesses dos nossos empreendedores privados bem satisfeitos com as exigências da CEE e, mesmo, os gestores dos nacionalizados não têm de se queixar, pois são atenciosamente aumentados.

Com a degradação da frota, consequência de os vários governo» tratarem apenas de salvaguardar aqueles interesses e exigências, são as condições de vida dos trabalhadores em geral, e mais directamente dos trabalhadores do mar, as atingidas: no direito ao emprego, à remuneração justa, às condições de trabalho