fácil Sá Carneiro então Primeiro-Ministro, e dispondo de mais alguma folga financeira, recusou o que agora foi concedido, deixou de fazer o que agora foi feito.

O Sr. António Arnaut (PS): - Muito bem!

O Orador: - Depois, uma pergunta elementar que pensarão de tudo isto os portugueses de Trás-os-Montes ou da Beira Baixa, tão esquecidos e tão desprezados.

Vozes do PS e da UEDS: - Muito bem!

O Orador: - Depois ainda uma curiosidade mórbida: quando convidará Mota Amaral o Primeiro-Ministro e o seu séquito a visitar os Açores.

O Sr. César Oliveira (UEDS): - Muito bem!

O Orador: - Finalmente, uma questão mais séria será que devemos ter por adquirido que em matéria de autonomia regional quanta mais melhor? Será que já chegou o momento de nos inquirirmos onde acaba o Estado regional e começa o Estado federado.

Todos, aqui temos dado provas de querermos que a autonomia geral regional se instale sem ambages. O meu partido, antes de qualquer outro, com uma sinceridade que lhe advém de a ter defendido quando ainda a entravavam muitos dos que hoje presumem de seus arautos. Mas não praticamos a demagogia de deixar de reflectir sobre isso, nem podemos silenciar a impressão que se colhe de que as aberturas agora prodigalizadas são menos uma expressão de coerência política do que o reflexo - detenho-me à beira de dizer o preço da necessidade que o Sr. Primeiro-Ministro tem de reforçar os seus apoios internos.

Tudo, afinal, sintomas do que já sabíamos que a AD é uma coligação artificial em equilíbrio instável que a sua coesão durou o que durou um projecto comum de conquista do poder, liderada por um político que tinha a força de uma ambição, servida pela perspicácia de um considerável talento que produziu um governo que viria a não resistir à erosão de apenas quatro meses de rotina que, enredada em jogos de poder pessoal, perdeu a capacidade - que não chegou a revelar - para liderar o processo político português nas frentes parlamentar, governativa e social; que disfarça mal o vazio da sua mensagem, e a falta de credibilidade do seu projecto que já não acredita em que emparedar a informação permita represar a verdade. Quer tudo isto dizer que passámos a acompanhar os que, não sem alguma razão, de há muito reclamam a demissão do Governo?

Vozes do PSD: - Oh, Sr. Deputado!

O Orador: - Ainda não!

É nossa convicção que, embora mau, não está ao alcance da AD produzir um governo melhor, visto que o defeito é de origem. Sem boa matéria-prima, bom não pode ser o produto acabado.

Vozes do PS e da UEDS: - Muito bem!

O Orador: - E se não acreditamos em que, no âmbito da AD, valha a pena substituir um governo por outro, estamos longe de convir em que sirva as instituições democráticas a sua continuidade e o seu prestígio- o risco de uma crise que conduzisse a governo nenhum, ou seja, à fatalidade do último recurso que é sempre uma nova consulta ao eleitorado.

Concebemos o mandato popular mais como um dever do que como um direito. Nos tempos difíceis que correm, mais como um preço que se paga do que como um prémio que se recebe.

É a vez de a AD pagar esse preço e cumprir esse dever. E de pagar e cumprir, não até ao primeiro gesto de enfado dos governados, mas até que se complete o processo de responsabilização dos governantes e dos partidos que os apoiam, e se torne claro que a salvaguarda das instituições democráticas impõe a emergência de uma consulta eleitoral antecipada. Não antes nem depois. Só então.

O Sr. César Oliveira (UEDS): - Muito bem!

O Orador: - Por agora, dar-nos-emos por minimamente resignados se o Sr. Primeiro-Ministro vier a esta Casa explicar aos representantes do povo o que motivou tão prematura remodelação ministerial, e em que medida os novos membros do Governo assumem o programa dos seus antecessores ou dele se afastam.

Se o não fizer, encontraremos meios de ser politicamente responsabilizado por o não ter feito. No mínimo, tornando mais claro que uma das mais sólidas razões do insucesso deste executivo reside na sua incapacidade para auscultar e tomar em conta a sensibilidade do comum dos cidadãos e dialogar com as forças políticas e sociais de cuja cooperação depende a solução dos nossos mais angustiantes problemas. Talvez que o Governo acabe por descobrir por que são tantas as greves e tão generalizado o coro de protestos.