com espírito evangélico, ensinou ao mundo o que significa, em termos de convivência humana, em termos de construção da história, o espírito de pobreza.

E quero recordar, neste momento, tudo quanto escreveu o grande historiador e grande poeta, de raiz franciscana, Jaime Cortesão sobre a importância e o papel magnífico do franciscanismo na história de Portugal e na história do Mundo, recordando que esse espirito franciscano que preside, desde António de Lisboa, aos destinos da cultura portuguesa e da cultura universal representa alguma coisa que se pode definir, como já alguém disse, em três planos distintos e perfeitamente harmónicos: o plano da interioridade espiritual, que tem que ver com a afirmação da pessoa no que esta tem de mais interno, de mais profundo e de mais universal, que tem que ver com o amor místico da Natureza - que é certamente uma característica do povo português, bem distinta do ascetismo de outros povos -, essa comunhão com a terra, que faz da gesta portuguesa no Mundo uma obra que, sendo de epopeia, é sempre, antes de tudo, de lirismo e de comunhão universal.

Mas, antes de tudo e acima de tudo, esse espírito extraordinário de pobreza evangélica de que Santo António deu exemplo significa para todo o homem que vem a este mundo a abertura à iluminação vinda de outrem, vinda do outro, a abertura a todas as culturas, a todas as civilizações, a todos os contactos de sentido humano para a construção de um todo que seja verdadeiramente a humanidade unida fraternalmente.

Essa procura da cultura estranha, essa sensibilidade sempre desperta para os valores dos outros, é qualquer coisa que desde o princípio caracteriza a alma portuguesa e que marca o povo português como um dos povos que desde sempre -apesar de todas as grandezas imperiais, falsamente imperiais ou imperialistas - teve no interior do seu coração o amor da pobreza evangélica, esse sentido pelo qual se pode dizer não aos grandes projectos e dizer sim aos que não se exprime nem se traduz em termos de grandeza, pois nunca a história antoniana da cultura portuguesa foi feita em termos de grandeza, mas sim em termos de interioridade e de evangélica pobreza.

Neste momento, Sr. Presidente e Srs. Deputados, queria exortar esta Assembleia a fazer deste início do Ano Antoniano o culto dos valores tradicionais portugueses, no que eles têm de mais profundo, e queria desde já acentuar a importância da iniciativa, há dias aqui anunciada, tomada pela Sociedade de Língua Portuguesa no sentido da criação de um Dia Internacional da Língua Portuguesa, que foi acarinhada por todos os grupos parlamentares.

A Sr.ª Amélia de Azevedo (PSD): - Muito bem!

Aplausos do PPM e do PSD.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, chegámos ao fim do período de antes da ordem do dia e vamos entrar no período da ordem do dia.

O Sr. Mário Raposo (PSD): - Dá-me licença, Sr. Presidente?

O Sr. Presidente: - Faça favor.

O Sr. Mário Raposo (PSD): - Sr. Presidente, fiz um gesto pedindo a palavra durante a intervenção do Sr. Deputado Barrilaro Ruas, mas compreendo perfeitamente que a Mesa não o tenha visto. Era apenas para, em jeito de pedido de esclarecimento, fazer uma brevíssima intervenção sobre a declaração política do PPM.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Mário Raposo, a Mesa não viu o seu gesto mas, como já terminámos o período de antes da ordem do dia, poderá ficar inscrito para falar na próxima sessão.

O Sr. Mário Raposo (PSD): - Não há qualquer inconveniente, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Da ordem do dia de hoje consta o projecto de lei n.º 183/II, apresentado pelo PCP, sobre cuidados primários de saúde.

O PCP deseja fazer a apresentação do projecto de lei?