me desse a demonstração prática dessa superação. Fica desde já o meu agradecimento, porque sei que ela virá um dia a ser justificada.

O Sr. Deputado José Vitorino referiu-se ainda ao «vazio» que existe. Eu já falei dele e não tenho mais nada a dizer.

Quanto à derrota e descalabro do general Soares Carneiro, lição que todos devemos recolher, queria-lhe frisar um aspecto que talvez não lhe tivesse ocorrido. Penso que as principais, as primeiras lições a recolher, devem-no ser por aqueles que conduziram a esse descalabro, que o sofreram, propiciaram e organizaram. Já recolheram essas lições? Continuam na mesma? Não me parece! Alguns dos Srs. Deputados da maioria já aprenderam a lição; outros ainda não; e outros já sabiam, antes da candidatura ser lançada, o resultado a que ela levaria. Portanto, acho que não necessito de pormenorizar este problema. O Sr. Deputado poderá saber na sua própria «casa» qual foi o verdadeiro responsável pelo descalabro da candidatura do gener al Soares Carneiro. Aconselhe-se com a Comissão Distrital de Setúbal e aí verá o que se passou.

Quanto ao Sr. Deputado Oliveira Dias, a sua intervenção revelou-me um certo equilíbrio. Devo dizer que há um ponto sobre o qual certamente concordaremos: é que o direito à diferença 6 de facto uma aspiração profunda da humanidade. £ não se consegue essa aspiração fazendo com que esse direito seja apropriado no sentido de criar privilégios, isto é, obter a diferença por privilégios. Ora, este governo, como nós vamos ter oportunidade de verificar no caso da EPAC, é um governo que governa para o direito à diferença dos privilegiados. E certamente que o PS não aprova isto.

O Sr. Oliveira Dias (CDS): - Dá-me licença, que o interrompa, Sr. Deputado?

O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Oliveira Dias (CDS): - O fundamental para mim é saber até onde é que o Sr. Deputado entende que há profundidade na pessoa humana para que se possa reconhecer diferença, isto é, se o Partido Socialista continua a ser um partido materialista, para o qual a diferença acaba no fundo dos bolsos, ou se reconhece que há valores mais profundos e, portanto, mudou o seu programa.

O Orador: - Desculpe, Sr. Deputado, mas não percebi bem onde é que acaba a diferença.

O Sr. Oliveira Dias (CDS): - No fundo dos bolsos. Sr. Deputado.

O Orador: - Ah, Sr. Deputado!

Queira desculpar-me, mas julguei que se estava a referir ao materialismo histórico como conceito filosófico. Trata-se, sim, do materialismo no sentido dos bolsos.

Risos do PS.

Eu lembro-me de um professor que tive na disciplina de Economia Política que falava muito do «sórdido materialismo» dos marxistas. Lembro-me também de alguém lhe ter perguntado o que é que ele queria dizer com aquilo, ao que o dito professor respondeu que era porque os marxistas ficavam com tudo, apoderavam-se de tudo, eram uns contraccionários e não deixavam nada aos outros. Suponho que não é esse o sentido aqui utilizado. Faço-lhe essa justiça!

Simplesmente, como pode calcular, o nosso projecto, que é o projecto da FRS, o qual foi apresentado ao povo português, não teve o mérito de uma vitória eleitoral que alcançasse uma maioria. Mas, dentro do direito à diferença, nem só as maiorias podem ter sempre por si a razão e até o reconhecimento de determinadas ideias, que hoje poderão ser novidade para parte do eleitorado e que amanhã triunfarão. O Sr. Deputado não quererá dizer que, quando 28 % do eleitorado se reconhece nesse programa e aspira à sua realização, estamos perante um programa desprovido de interesse para o País. Eu suponho que o partido do Sr. Deputado, que tem um programa próprio, não passará dos 16 % se se apresentar sozinho às eleições. Estarei enganado?

Vozes do CDS: - Está, está!

O Orador: - Isso levará o Sr. Deputado a renunciar às suas ideias e ao seu programa?

O Sr. Oliveira Dias (CDS): - Dá-me licença, que o interrompa novamente, Sr. Deputado?

O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.

que não! Poderá o Sr. Deputado dizer que neste país a democracia cristã, ou o que hoje se intitula como tal, esteve sempre do lado das liberdades?

Vozes do CDS: - Sim!

O Orador: - Sabemos que não, Sr. Deputado. Não vou entrar nessa querela, porque não me parece que o passado deva ser congelado para ser constantemente repetido.

Mas não me parece que exista o direito de se apropriarem do direito à diferença, exactamente da mês-