rupto para que o seu trabalho fosse um trabalho continuado cada dia melhor, cada dia mais rico.

Voz renovada e povoada de silêncios, creio que este voto não terá sentido se continuarmos a permitir que, como- recentemente aconteceu, a voz de Carlos de Oliveira seja afastada dos programas escolares e que esta Assembleia continue a pensar nos poetas e nos prosadores que vão morrendo e se vá esquecendo daqueles que vivem.

Creio que na voz de Carlos de Oliveira todos nós também poderíamos aprender a «empurrar o tempo ao encontro das cidades futuras, fique embora mais curta a nossa vida» e que também nós poderíamos dizer, acompanhando a voz de há pouco da Sr.ª Deputada Natália Correia que, se cada vez que morre um poeta, é uma noite sem luar na nossa terra, talvez valha a pena aproveitar a vida que na obra permanece e lembrarmo-nos que, como o próprio Carlos de Oliveira escreveu no seu provérbio, «a noite é a nossa dádiva de sol aos que vivem no outro lado da terra».

Aplausos da ASDI, do PSD, do PS, do CDS, do PCP, da UEDS e do MDP/CDE.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Herberto Goulart.

O Sr. Herberto Goulart (MDP/CDE): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Tal como as demais bancadas, também o MDP/CDE se quer associar ao voto de pesar apresentado pelo PCP pelo falecimento dessa grande figura de literatura portuguesa, o escritor Carlos de Oliveira.

O voto que iremos dar significa também prestar aqui uma última homenagem ao poeta e ficcionista que tão bem soube recriar ambientes e que, na sua actividade literária, chegou a uma tal depuração de forma que leva tantos especialistas da literatura a considerá-lo, nomeadamente neste aspecto, um dos maiores vultos da literatura portuguesa.

Mas também queremos homenagear Carlos de Oliveira como cidadão que, numa atitude de total coerência, soube atravessar um longo período de obscurantismo em que criou grande parte da sua obra sem cedências à cultura oficial, o cidadão que mantendo-se numa atitude de independência sempre esteve comprometido, afinal, com os valores da justiça e da solidariedade entre os homens.

As letras portuguesas estão de luto com o falecimento de Carlos de Oliveira, mas também o está a Nação Portuguesa porque «se a sua obra perdurará viva e actuante» - como é dito no voto proposto pelo PCP perde o País um intelectual de cujo valor, de cuja capacidade criativa, um imenso contributo ainda seria de esperar para o enriquecimento do património cultural do povo português.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Não havendo mais oradores inscritos, vamos votar o voto apresentado pelo PCP.

Submetido â votação, foi aprovado por unanimidade registando-se a ausência da UDP.

É do seguinte teor:

Voto da pesar

Morreu, no pretérito dia 1 de Julho, o escritor Carlos de Oliveira. A sua obra, profundamente humanista, constitui um dos mais altos testemunhos da criatividade e espelha a personalidade exímia do antifascista consequente. O seu olhar lúcido e solidário não hesitou em afrontar todas as peças: as do tecido social opressivo; as que, nascidas do conformismo formal, estimulam, na arte, o imobilismo e a convencionalidade.

Perda irreparável, a morte do autor de Uma Abelha na Chuva ou Finisterra, mesmo sendo certo que a sua obra perdurará, viva e actuante, é motivo de veemente dor.

Pelo que a Assembleia da República expressa O' seu fundo pesar e honra a memória de Carlos de Oliveira, um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos.

Assembleia da República, 3 de Julho de 1981. - Pelo Grupo Parlamentar do PCP, José Manuel Mendes.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, vamos entrar no período da ordem do dia.

hoje se apreciar o recurso interposto.

O Sr. Salgado Zenha (PS): - Peço a palavra, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Salgado Zenha (PS): - Sr. Presidente, penso que não será necessário efectuar-se uma reunião para esse fim. Pela nossa parte, estamos de acordo em discutir de imediato o recurso. Para tal, bastará que o partido impugnante dê o seu acordo.