ca minha parte, de alguns secretários de Estado ou de algum outro membro do Governo receberam indicações tendentes a desvirtuar, a inflectir ou a orientar o projecto na base de protecções a qualquer interesse menos legítimo.

O Sr. Moura Guedes (PSD): - Muito bem!

não posso deixar de me referir aos 2000 trabalhadores da EPAC, a quem também quero, aqui, exprimir o respeito pela persistência, quanto mais não seja da sua luta, se bem que por vezes ela tenha disferido alguns golpes abaixo da cintura, persistência essa que é uma forma de afirmação democrática que o Ministério da Agricultura e Pescas, como tive ocasião de lhes expressar pessoalmente, também admira.

Curiosamente, todas as acusações, toda a campanha que interesses divergentes de vários quadrantes políticos, mais ou menos extremados, fizeram à posição do Governo, tiveram sempre o cuidado de reflectir incidências comerciais.

Tanto mais curioso é este facto que o projecto que nasceu em Janeiro do ano passado no Ministério da Agricultura e Pescas - muito antes de Maio, como referiu o Sr. Deputado António Campos e que é fruto de um processo lateral que o Ministério não controla - teve por objectivo fins eminentemente agrícolas, e é nessa perspectiva que o Ministério da Agricultura e Pescas o defendeu em Conselho de Ministros com a consciência da dificuldade da tarefa, dos interesses que naturalmente geria, de quanto custa em Portugal ou noutro país como o nosso mudar qualquer sistema de forma radical.

Uma voz do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Gostaria de dizer que considero infeliz a expressão vulgarizada de «liberalização do mercado de cereais». Eu próprio a terei empregue algumas vezes e gostaria de afirmar que o sistema que preconizamos e que defendemos se ajusta nitidamente a um sistema liberal.

O Sr. Moura Guedes (PSD): - Muito bem!

O Orador: - E ele está em consonância com o sistema da Comunidade Económica Europeia que, curiosamente, é seguido por países que não pertencem a essa comunidade mas esse princípio de intervenção activa das estruturas sociais em defesa da estrutura produtiva não pode, de forma nenhuma, considerar-se um sistema liberal.

O Sr. Moura Guedes (PSD): - Muito bem!

O Sr. Sousa Marques (PCP): - Ainda bem! Ficamos muito satisfeitos, Sr. Ministro.

O Orador: - Ainda bem! Estamos de acordo.

Penso que foi suficientemente expresso durante o debate que o sistema actual não é defensável. É verdade, como diz o Sr. Deputado Lopes Cardoso, que algumas das medidas que neste momento temos em vista poderiam ter sido tomadas no velho sistema. Mas não o foram.

Existem circunstâncias de ordem histórica que não podem deixar de ser consideradas e é impressionante a análise das estatísticas, quer da produção, quer da importação de cereais, ao longo dos últimos anos.

O sistema monopolista de Estado, bem caracterizado com os seus antecedentes históricos, hoje e nesta Sala, não teve sequer, de facto, a dinâmica possível de permitir que uma elevada concentração da procura tivesse fisicamente alguma reacção sobre a oferta.

Uma voz do PSD: - Muito bem!