aquilo que foi positivo no desassombro ou na incomodidade, e na colocação frontal dos problemas que, de alguma forma foram apanágio da acção do Dr. Brás Teixeira, a quem não deixámos de aplaudir sempre que esteve ao lado da cultura e da criatividade, contra a não cultura ou contra a pseudocultura. Ou quererá antes significar o juízo negativo por aquilo que se fez de menos correcto?

Hoje tememos o regresso às discussões bizantinas da identidade ou não identidade nacional - o que francamente nos deve preocupar muito menos do que a descoberta dos caminhos concretos para que o País possa encontrar-se e afirmar-se, como idiossincrasia, como particularidade, como encruzilhada de destinos e projectos, de sentidos e de existências. Daí que a reflexão do homem e o reconhecimento das suas próprias limitações deva servir de base à criação de novas relações sociais e humanas na perspectiva, porventura, da sociedade pós-industrial que se desenha e adivinha, c

O Sr. César de Oliveira (UEDS): - Muito bem!

O Orador: - Também não é nesse enunciado que nos surgem novidades ou motivos de extensas considerações, o que já não acontece com a justificação «da nova orgânica para uma nova política». Não se compreende aí por que razão de fundo o terceiro governo da AD descobriu que «a perspectiva cultural deve ser uma perspectiva de toda a actividade pública e do Governo em particular», quando a nossa memória recorda como bem presentes as críticas feitas à estrutura do V Governo Constitucional e a destruição sistemática e minuciosa da sua obra organizativa que agora, pelo menos em parte, procura ser retomada. Tudo isto é estranho, é injustificável, e não permite que possamos dar credibilidade à «magnífica)) afirmação de que este é um «ponto alto de um processo que é o oposto ao da censura cultural e ao do dogmatismo cultural e ideológico» propósito correcto e são, naturalmente.

Pode tratar-se, deste modo, ao mesmo tempo de um nariz de cera e de uma manifestação de má consc iência, de quem sabe por experiência própria, que a cultura não é compatível com campanhas maniqueístas ou com a tentativa restauracionista ou de regresso em que apoiantes deste governo embarcaram num passado bem recente...

No plano da organização cabe salientar ainda, por um lado, que, com a criação do Ministério da Educação e das Universidades (nome pomposo, mas incorrectamente adoptado, denunciando tardia e desajustada influência de além-fronteiras), se vê com dificuldade que as universidades possam surgir como autênticos centros de investigação e pesquisa cientificas. Dir-se-á, porém, que cabe ao novo Ministério da Cultura apenas a coordenação científica, o que não é resposta satisfatória, porque todos sabemos quais as dificuldades com que nos vimos deparando no plano universitário, e que tenderão- a agravar-se sem uma articulação efectiva entre a política científica a nível geral e a nível das universidades em especial. Aliás, o extremamente parco programa de ed ucação que apenas reserva seis - repito - seis linhas às universidades e à sua autonomia (apesar da mudança de designação) em nada nos responde às lacunas e dúvidas deixadas na parte relativa ao Ministério da Cultura, o que é para já um mau indício de falta de articulação e de menos correcta concepção.

Ora isto não pode deixar de ser considerado como extremamente preocupante num momento em que a universidade portuguesa atravessa uma encruzilhada decisiva na qual se defrontam de novo as velhas concepções da escola superior fechada (com as trágicas tradições que possui entre nós de terem encerrado as suas portas a muitos dos maiores expoentes