Quererá dizer que o PC julga que pode demitir um governo que no Parlamento é apoiado por mais do triplo dos deputados com que pela sua parte conta? Mas então, afinal, o PC não respeita um ponto fundamental e axiomático do regime e das regras constitucionais de que se arvora globalmente em paladino. Ou quererá significar que o Partido Comunista pretende pressionar o Presidente da República no sentido de que use poderes, que, de facto, a Constituição lhe atribue, quer em ordem a exonerar o Primeiro-Ministro - que, aliás, acaba de nomear e de empossar -, ou a dissolver a Assembleia que ainda nem sequer há um ano foi eleita? Mas que significado teria e que modalidades usaria essa pressão? Estará o PC, com toda a sua panóplia de intervenção, convencido de que o Presidente da República lhe obedeça, lhe deveria ou poderá a vir obedecer-lhe? Nós não acreditamos nisso e creio que é um ponto a esclarecer entre o Sr. Presidente

da República e o PCP.

Ou significa apenas, ludicamente, que o Partido Comunista gosta de eleições? Mas toda a gente sabe que o PC apenas tolera aã eleições para órgãos de soberania como ritual burguês a que, contrariado, se submete em regimes pluralistas, mas que considera obscenos quando alcança o Poder, como estamos a ver na Polónia. Não. Do que o PC gosta e aquilo que pretende é propaganda, para demonstrar a si próprio que existe, embora a percentagem de votos que, infelizmente, ainda tem entre nós seja apenas mais uma manifestação do subdesenvolvimento político, económico e social em que o regime deposto em 25 de Abril deixou o nosso país e de que ainda não conseguimos arrancá-lo.

Vozes do CDS, do PSD e do PPM: - Muito bem!

registo que se não cansam de repetir.

Estamos, pois, ao menos num ponto concreto de acordo com o PC - a Aliança Democrática existe. Não podemos aceitar é a adjectivação zaragateira que por vezes se ouviu; e muito menos a caracterização que o PC faz do nosso projecto político, que é completamente falsa, especulativa, propagandística para auto-satisfação dos Srs. Deputados do PC, em suma, Festa do Avante metida na Assembleia da República.

Risos do PSD.

A Aliança Democrática não é nem uma praga nem portadora de qualquer praga. Por nós, democratas-cristãos, sem qualquer intuito de nos arvorarmos em destinatários privilegiados da doutrina social da Igreja Católica, é sabido que assentamos os nossos princípios numa interpretação legítima desta. E assim não podemos deixar de considerar oportuno referir ao menos um passo da encíclica Laborem Exercem, publicada há dois dias pelo Papa João Paulo II, na sequência de uma doutrina de há 2000 anos que de há um século não tem deixado de ser repetidamente recomendada aos cristãos. Cito:

A doutrina social da Igreja diverge radicalmente do programa do colectivismo, proclamado pelo marxismo e realizado em vários países do Mundo nos decénios que se seguiram à publicação da Rerum Novarum.

E, ao mesmo tempo, diverge também do programa do capitalismo, tal como foi posto em prática pelo liberalismo e pêlos sistemas políticos que se inspiram no mesmo liberalismo. Neste segundo caso, a diferença está na maneira de compreender o direito de propriedade, precisamente. A tradição cristã nunca defendeu tal direito como algo de absoluto e intocável; pelo contrário, sempre o entendeu no contexto mais vasto do direito comum de todos utilizarem os bens da criação inteira; o direito de propriedade privada está subordinado ao direito ao uso comum, subordinado à destinação universal dos bens.

Consideramos, pois, profundamente injustas as acusações de porta-vozes do capitalismo selvagem que nos são .dirigidas. Essa posição está tão fora do nosso ideário como o marxismo, que, para nós, também é uma experiência errada na teoria e falhada comprovadamente na prática.

Vozes do CDS e do PPM: - Muito bem!