de clivagem flagrantes se viriam a agudizar entre a maioria de sustentação do próprio Governo. Por nós, estamos abertos, como sempre, ao diálogo dessas e de outras questões essenciais, que, aliás, não nos suscitam quaisquer problemas ou dificuldades, no quadro de umas concepção global de funcionamento do regime democrático. Foi esquecida a antes tão falada «libertação da sociedade civil» e discretamente passou, para uma simples enumeração de política externa a antes considerada «prioridade das prioridades», a integração europeia. Anotemos tão-somente o facto, para que não passe em julgado, e avancemos.
Aceitamos começar por debater as questões indicadas, que têm de facto a ver com uma melhor definição do regime, desde que o diálogo seja público, para que o País inteiro nele possa participar e se estabeleça na clarificação plena, sem discriminações nem propositadas ambiguidades. Comecemos então por precisar a direcção do apelo ao consenso do Sr. Primeiro-Ministro, ao usar, intencionalmente, o vocábulo democratas. Entendemos nós por democratas aqueles que se sentem fiéis ao 25 de Abril e que, portanto, repudiam o regime corporativo-policial e o colonialismo, estigmas marcantes de um passado recente e, não esquecido por alguns.
Aplausos do PS, da ASDI e da UEDS.
É uma precisão importante. Levantará ela dificuldades no quadro da AD? Demarquemo-nos depois, como pretende o Sr. Primeiro-Ministro, do colectivismo ou, como aqui foi chamado, «do capitalismo de Estado de fachada socialista». De acordo. Mas aqui - atenção -, por maiores divergências que tenhamos, e temo-las, como se sabe, com a actual direcção, do Partido Comunista, não aceitamos que se procure confinar esse partido num ghetto político-ideológico, pela solidariedade e respeito que nos merecem os trabalhadores que votam comunista e porque essa seria a melhor maneira de reforçar o sectarismo tradicional do PCP.
Aplausos do PS, da ASDI e da UEDS.
Não acompanhamos o Governos nem a AD no seu horror ao sector público. Por outro lado, a defesa dos interesses dos trabalhadores, e das camadas roais
desfavorecidas da população continuam a constituir a nossa principal prioridade. Quando o próprio Papa João Paulo II, na encíclica Laborem Exercens, condena por igual o capitalismo liberal e o colectivismo marxista, proclama que o direito à propriedade privada está subordinado ao direito do uso comum e afirma a dignidade do trabalho e o valor da solidariedade social, a AD terá de compreender que não é mais possível apagar da Constituição Portuguesa o seu carácter progressista e o seu compromisso de transformação social, realizado na justiça e em liberdade.
Aplausos do PS, da ASDI e da UEDS.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PS, que acima dos seus próprios interesses partidários, imediatistas, sempre colocou o interesse nacional e do Estado democrático que ajudou a construir, não regateará uma vez mais o seu concurso, em termos de oposição construtiva. Por isso procurou que a crise do governo AD não degenerasse numa crise do regime democrático, que poderia ser fatal à estabilidade das instituições. Por isso procurará ultrapassar as campanhas feitas meramente pela negativa, para perfilar, perante o País, alternativas concretas que ajudem no imediato a resolver os problemas concretos dos Portugueses. Mas uma tal posição de responsabilidade têm contrapartidas e exigências, principalmente ao nível da solidariedade social. O PS não aceitará, sem frontal reacção, que o Governo continue a deixar degradar o poder de compra das classes trabalhadoras ou que procure fazer pagar a crise aos mais desfavorecidos.
Vozes do PS: - Muito bem!
O Orador. - ... consentido ou mesmo estimulado o negocismo sem freio dos privilegiados do passado, de novo instalados.
Vozes do PS: - Muito bem!
ta desde já quaisquer ilusões. O País também não, segundo o sentimento geral. Há, entretanto, que dar tempo ao tempo e deixar os Ministros que integram o novo governo provar, o que valem. Como