projectos de revisão para se ficar a ter por certo: que o PCP não queria a revisão. Não queria que se extinguisse o Conselho da Revolução e se pusesse termo à autogestão das forças armadas;

O Sr. Carlos Robalo (CDS): - Muito bem!

O Orador: - que a AD a queria por excesso. Adeus sector público da economia, adeus Reforma Agrária, adeus 25 de Abril; que só o PS, em conjunto com a UEDS e a ASDI, assumiam uma posição de equilíbrio .entre o imobilismo do PCP e a visão sísmica da AD. Nem a mistificação nem a proscrição .do texto de 1976. Tem virtudes e tem defeitos. É em parte definitivo (com a relatividade de tudo quanto é humano!) e em parte transitório. Previu, ele próprio, a sua revisão no termo do sic transit que a si mesmo fixou. E previu-a por maioria qualificada inferior à exigida para a segunda e ulteriores revisões.

Quis assim ele próprio o que uma certa esquerda não queria (o que tornava a sua recusa eticamente inconstitucional!) e uma certa direita queria por excesso (o que convertia o seu voluntarismo num golpe!).

Daí que o PS, após uma reflexão serena e conjunta com os seus parceiros de iniciativa, tenha elaborado um projecto que salvaguardava o essencial e mudava o necessário.

O Sr. António Vitorino (UEDS): - Muito bem!

O Orador: - Não se há-de assim estranhar que este projecto, colocado no meio de posições entre si antípodas, tenha sido o ponto de referência da revisão, e visto aprovados cerca de três quartos das soluções nele contidas.

Como, assim, não havia de ser atacado o Partido Socialista?

Atacado pelo PCP, pelo que fez, e pela AD, pelo que não deixou fazer.

Atacado pelo PCP, com base na solução encontrada para a designação das chefias militares; na extinção do Conselho da Revolução, na forma que revestiu e na consequente redistribuição dos seus poderes; na composição, enfim, do Tribunal Constitucional.

Atacado pela AD, por ter resistido à eliminação do socialismo como objectivo do Estado; por ter insistido na irreversibilidade das nacionalizações e no essencial da organização económica e da Reforma Agrária.

E claro que o PS também teria acusações a fazer. Ao PCP, por ter, irrealisticamente, tentado manter imutável a Constituição, à AD, por ter tentado subve rtê-la; ao PCP, por ter querido evitar a subordinação do poder militar ao poder civil, à AD. por ter feito tudo quando pôde para roubar sentido à subordinação do poder económico ao poder político.

Isto para não ultrapassar um reduzido genérico.

Só que, tendo o PS evitado a consumação de tais desideratos, estes são hoje intenções póstumas que não tiram o sono a ninguém.

Mas é tempo de os Portugueses se darem conta de algumas elementaridades.

Desde logo o facto de que as acusações do PCP e da AD são de sinal contrário e a si mesmas se destroem. O PS não pode, com um mínimo de fundamento, ser a um tempo acusado de desagradar à esquerda e à direita. Há que ter em conta as tensões contraditórias que foi necessário confrontar.

O que impõe a conclusão de que o PS, tendo basicamente imposto as suas próprias ideias e soluções, cuidou de agradar a si mesmo.

Exigindo-se para qualquer alteração a maioria qualificada de dois terços, só por convergência d os votos da AD e do PS a revisão era, na prática, possível. Houve assim que confrontar exigências e que articular vontades. Numa palavra, que conduzir negociações. Esta consideração retira sentido ao falso escarmento contra uma revisão politicamente negociada. De que outro modo poderíamos nós tê-la feito? Importa, isso sim, que a fizemos em diálogo aberto com os nossos interlocutores, primeiro na Comissão de Revisão -e disso falam copiosos registos- e depois no Plenário da Assembleia, disso rezando as criticas e as crónicas.

Excepcional -e esse mesmo não escondido- foi o encontro de cúpulas partidárias com vista à ultrapassagem dos pontos contados em face dos quais os membros da Comissão de Revisão baixaram os braços num desalentado non possumus.

Que falta para concluir que, ter procedido de outro modo, era condenar o processo ao mais rotundo fracasso?

Tivesse ele fracassado e não faltaria aí quem nos responsabilizasse pela sua quebra muito mais do que nos responsabiliza pelo seu sucesso!

Como sempre acontece, o tempo corrigiu, veloz, os mais chocantes abusos do direito de discordar. Quem já